A plateia pouco pode
fazer contra o derretimento econômico e moral da administração pública. Isso
não significa que, além de ser tapeada, tenha que ser tratada como uma plateia
estúpida. A presidência de Dilma encontra-se na UTI. Deve-se a Lula boa parte
da septicemia que paralisou o governo. Foi ele quem criou a fábula da
gerentona. Foi nos governos dele que nasceram o mensalão e o petrolão.
A despeito de tudo isso,
Lula acha que não deve nada a ninguém. Muito menos explicações. E ainda se
julga autorizado a fazer o papel de clínico geral. Afirma que a roubalheira não
pode afetar a “governabilidade do país.” E sustenta que a ruína econômica é
banal: “É como uma febre de 39 graus. Alguém morre por causa disso? É só tomar
um remédio e pronto!”
Lula fez o diagnóstico
numa entrevista ao jornal argentino Pagina 12. Nela, disse que o impeachment
não é remédio adequado. Até porque a crise política também lhe parece trivial:
“Não é difícil encontrar uma saída. Hoje temos uma certa insegurança na base de
sustentação do governo, por divergências entre a Câmara e o governo, entre os
partidos políticos. Mas, se recuperarmos a harmonia política, também poderemos
resolver os problemas econômicos.”
Ainda que a plateia
fosse estúpida e que Dilma virasse a gestora impecável do fabulário petista,
Lula ainda teria de responder às seguintes perguntas: o que madame pretende
fazer? O que o governo dela tem a oferecer além de mais impostos?
Ninguém lembra o que
Dilma propunha na campanha do ano passado. Ainda que lembrasse, não adiantaria.
Era empulhação. Fingir que não tem nada a ver com a encrenca pode auxiliar na
desconversa de Lula, mas não é uma solução. Se o criador acha que ajuda sua
criatura mantendo-se desconectado da realidade, problema dele.
Como diz o
vice-presidente Michel Temer, “ninguém vai resistir três anos e meio com esse
índice baixo. Se a economia melhorar, acaba voltando um índice razoável. Mas,
se ela continuar com 7% e 8% de popularidade, fica difícil.” Só há uma maneira
infalível de um governante alcançar a popularidade: a prosperidade.
UOL
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