Na sexta feira passada,
a Frente Brasil Popular dirigiu um respeitoso documento ao Governador Paulo
Câmara. Não ao PSB, mas ao governador de todos os pernambucanos.
Democraticamente, defendeu as suas posições, apresentou os seus pleitos
legítimos. Do governador recebeu o silêncio. Para a surpresa geral, veio uma
resposta agressiva do Presidente do PSB, Sileno Guedes, atacando a Frente e o
PT. A Frente dará a sua resposta. Mas como presidente do PT comento as
contradições do referido dirigente e respondo às agressões ao partido ao qual,
com muito orgulho, sou filiado.
Inicialmente, ele atacou
com deselegância para tentar dissimular a sua falta de justificativa por apoiar
um golpe fraudulento contra uma Presidenta legitimamente eleita. E o fez pelo
desconforto diante do registro, feito na carta aberta, de que Dr. Miguel Arraes
teve uma atitude digna ao ser deposto no golpe de 64 e que foi alvo de uma
ofensiva e de uma deposição semelhante à que se tenta atualmente.
Para isso, remexeu em um
episódio isolado surgido no calor de uma greve, como se fosse possível
disfarçar que, no golpe e no governo, o PSB, na gestão do presidente Sileno
Guedes, está ao lado da dupla Jarbas/Mendonça que produziu, com estardalhaço,
uma longa série com as maiores, mais duras e mais injustas ofensas à honra do
Dr. Miguel Arraes e à do próprio ex-governador Eduardo Campos, após a
emissão dos títulos públicos dos precatórios ou quando foi indicada e ao fim
nomeada, com o apoio de Lula e do PT, a atual ministra pernambucana do Tribunal
de Contas da União. Nem na ditadura o ex-governador foi tão ofendido e, ao que
se saiba, o presidente Sileno Guedes nunca manifestou de público algum incômodo
com essas ofensas e com a parceria com lideranças da direita historicamente
hostis ao PSB e aos seus líderes.
Sobre a farsa do
impeachment e nas suas agressões gratuitas, a nota prosseguiu afirmando que o
“governo se exaure, contaminado por denúncias”. Deveria ter mais cautela,
prudência e respeito, aguardando o curso das investigações, das acusações e das
defesas.
Afinal, o governo do PSB
em Pernambuco vem sendo alvo de operações da Polícia Federal, denominada
Fair-Play, com buscas e apreensões em escritórios, residências e no órgão
governamental que cuida das PPP’s – Parcerias Público Privadas, na
época presidido e vice-presidido pelos atuais Prefeito do Recife e pelo
Governador do Estado. De outro lado, delações premiadas mencionam lideranças do
PSB, acusando-as de receber vultosas propinas.
Há graves acusações de
superfaturamento da obra da Arena Pernambuco e de um contrato que, por décadas,
seria lesivo ao povo de Pernambuco, ambas tendo como contrapartes o Governo e a
Odebrecht, uma das empreiteiras investigadas na Lava-Jato. As acusações também
alcançam a terraplanagem da Refinaria em Suape, a obscura PPP de Itaquitinga ou
a pouco transparente PPP da Compesa, com a mesma Odebrecht. Muitas outras
denúncias sobre licitações supostamente fraudulentas e investigadas pela mesma
PF, circulam com aúdios de escutas telefônicas e reprodução de documentos.
O “site” do TSE sobre as
eleições de 2014, registra doações para a campanha da chapa Paulo Câmara, Raul
Henry e Fernando Bezerra no elevado montante de R$ 11,8 milhões realizadas
pelas principais empreiteiras investigadas na Lava-Jato (Odebrecht, OAS, UTC,
Queiróz Galvão e Andrade Gutierrez), todas elas executoras dessas e de outras
obras em Pernambuco sob investigação,. Lá, no mesmo “site” da Justiça
Eleitoral, também constam doações dessas empresas para TODOS os políticos e
partidos pernambucanos envolvidos no golpe e que hoje ofendem Dilma e Lula com
os mesmos adjetivos chulos com que ofenderam, até há bem pouco tempo, ao Dr.
Arraes e ao ex-governador Eduardo Campos.
O chamado listão da
Odebrecht recentemente divulgado (e logo escondido pela pequena presença de
petistas) igualmente contém potenciais injunções corrosivas sobre muitos
deputados e gestores pernambucanos que estão, por aí, proferindo votos pelo
golpe e acusações levianas ao PT. Frequentemente embasadas em moralismo falso,
manipulador e da escola lacerdista.
Sobre o conjunto desses
fatos acima mencionados e de outros fatos, nós do PT temos sido responsáveis e
cuidadosos. Não proferimos acusações, nem pré-julgamentos, contra os delatados
ou investigados de outros partidos em Pernambuco. Aguardamos a evolução das
investigações e as defesas daqueles que são acusados. Evitamos até citar nomes,
como nesta resposta.
Não queremos manipular
investigações e correr o risco de cometer injustiças como as que têm sido
feitas contra o PT, por agentes do Estado e por setores golpistas da mídia e da
oposição tucana. Preferimos um debate mais qualificado do que aquele proposto
na nota do presidente Sileno Guedes. Sem insinuar. Não desejamos, mas se for
inevitável, temos elementos, documentos e estamos prontos para debater em
qualquer terreno escolhido pelos golpistas pernambucanos. Mesmo naqueles solos
mais inóspitos, subterrâneos ou pantanosos. Quem se atrever neles, que aguente
o tranco !!.
Sobre a política,
presidente Sileno Guedes, o que a história vai registrar é que a primeira etapa
da farsa do impeachment foi aprovada por 367 votos na Câmara dos Deputados,
quando bastavam 342. Ou seja, a violência contra a democracia e contra a
soberania de 54 milhões de votos populares venceu com uma margem superior de 25
votos. Ora, a bancada do PSB possui 32 deputados federais e proferiu 29 votos
aprovando o golpe, dentre estes os de todos os deputados da legenda em
Pernambuco. Do Estado onde Dilma conquistou a maior vitória percentual do País
no segundo turno em 2014 e, para a vergonha de milhões de pernambucanos, esses
deputados deram os votos do quórum para o golpe, para afrontar e anular os
votos dos eleitores pernambucanos para presidente. O PSB, então, foi o fiel da
balança. Os votos de sua bancada teriam barrado o golpe na largada. Foram os
votos decisivos do golpe. Isto, nem a história, nem notas agressivas poderão
esconder ou escamotear. Não há como deixar de assumir a responsabilidade
histórica por ter feito a diferença !
Outro fato relevante é
que, neste domingo, os votos do PSB foram destinados a colocar o conspirador e
vice-presidente Michel Temer na presidência da república e o corrupto Eduardo
Cunha na vice-presidência. Tal como em 1o de abril de 1964, os golpistas de
então, na Alepe, decidiram colocar outro vice no lugar constitucional e
legítimo do eminente governador Miguel Arraes que, estando arbitrariamente
preso, teve o cargo declarado vago no impeachement fraudulento da época. A
narrativa, a motivação e as articulações dos golpistas possuem semelhanças
impressionantes na história brasileira. Sempre é possível encontrar um vice
para conspirar e para trair, seja sob Vargas, sob Arraes ou sob Dilma. O PSB
escolheu o seu.
Mas as contradições do
PSB não são apenas perante a história de Dr. Arraes. Nesses dias, tem sido
recorrente a lembrança de que o ex-governador Eduardo Campos enfatizava
publicamente que, se eleito presidente, o “PMDB de Sarney, de Renan e de Temer
estaria na oposição, pela primeira vez na história”. Mas os votos do PSB no
domingo foram para colocar o PMDB na presidência e na vice-presidência da
república, e pela via do golpe fraudulento, do impeachment sem crime.
Lamentavelmente, presidente Sileno Guedes, suas agressões não conseguirão
disfarçar que, sob a sua gestão, o PSB desistiu da própria linha histórica,
desistiu de Dr. Arraes, desistiu até de Eduardo Campos !
BRUNO RIBEIRO DE PAIVA
Presidente estadual do PT de Pernambuco
Recife, 19 de abril de 2016
Presidente estadual do PT de Pernambuco
Recife, 19 de abril de 2016
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