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Mércia Santos preparou o almoço dos filhos e sentou no sofá para assistir à TV por alguns minutos. Seria um dia normal como todos os outros. Seria se não fosse a reportagem que o programa Balanço Geral, da TV Record, exibia naquele momento:a morte de um jovem atleta da Portuguesa, encontrado na piscina do Canindé. O mundo parou diante da tela. Era seu filho.
Mércia Santos preparou o almoço dos filhos e sentou no sofá para assistir à TV por alguns minutos. Seria um dia normal como todos os outros. Seria se não fosse a reportagem que o programa Balanço Geral, da TV Record, exibia naquele momento:a morte de um jovem atleta da Portuguesa, encontrado na piscina do Canindé. O mundo parou diante da tela. Era seu filho.
Mércia entrou em desespero. Chorou, chorou muito na
companhia de Rafaela, de 13 anos, e Eduardo, 10.
"Vi a reportagem e mostraram a foto e o vídeo
dele tocando guitarra. Quando eu vi, fiquei totalmente desesperada. Chorei
muito com meus filhos. Minha filha chorou muito, meu filho se controlou mais. A
gente nunca espera perder um filho, espera que um filho enterre a gente", disse,
sem conter as lágrimas.
O único desejo que poderia ter era ver
Lucas pela última vez e se despedir dele. A tarefa seria
árdua. Hoje, ela mora na longínqua Carnaíba, cidade no interior de
Pernambuco a 357 km de Recife. Até chegar ao velório, seria preciso percorrer 6
horas de ônibus até a capital e pegar um voo para São Paulo.
Mas o bolso não permite tal aventura. Mércia vive graças
ao programa Bolsa Família e a uma pequena pensão alimentícia do ex-marido. É
dona de casa e não pode trabalhar porque a filha precisa de cuidados especiais.
"Pedi para os conhecidos meus aqui, colegas e
ninguém podia ajudar. Minha amiga falou: 'vai lá no prefeito e vê: quem sabe
ele não te ajuda'. Fui atrás do prefeito e ele disse que não tinha como. Estou
sofrendo demais, não tenho condições de ir ao enterro. Eu só queria me despedir
do meu filho. Tentar eu já tentei de tudo", diz.
Desolada, foi obrigada a aceitar o adeus à distância. Mas
a dor de estar longe já não era uma novidade para ela. Mércia não via o filho
Lucas havia cinco anos desde a última vez em que foi para São Paulo. Ainda que
eles se falassem todos os dias pelo aplicativo Whatsapp, o menino era criado
pelos avós desde pequeno.
Lucas nunca conheceu o pai em uma história que começou
errada. Mércia era quase uma criança quando engravidou aos 13 anos. O assunto
virou um rebuliço na família que pensou em denuncia-lo à polícia, mas não
seguiu adiante. O pai nunca quis assumir o filho. Hoje, a lei diz que qualquer
ato sexual entre maiores de idade e menores de 14 anos é considerado estupro de
vulnerável.
Anos depois, ela se mudou para Pernambuco e deixou o
filho com os avós. O pequeno Lucas já tinha o sonho de se tornar jogador. Hoje,
ela fala com orgulho do menino que se destacava como zagueiro e era considerado
carinhoso, quieto e apegado à família. Além de muito dedicado ao futebol.
"Ele dizia: 'vou trazer a senhora de volta quando eu assinar o meu
primeiro contrato'. Eu dizia: 'está bem, meu filho'".
Além do futebol, Lucas mostrava outros talentos. Era
alto, bonito e fazia sucesso com as meninas. Foi convidado para fazer alguns
trabalhos como modelo e estava em contato com um fotógrafo que queria fazer um
book dele. Lucas também tinha uma veia musical. Cantava direitinho, não fazia
feio no violão e até arriscava uns acordes da guitarra.
Mas nada que tirasse o foco do seu sonho. Ele tinha
convicção de que queria ser jogador de futebol. Queria jogar na Portuguesa, já
que o avô é fanático pelo clube. No dia da tragédia, estava radiante com a
classificação para a próxima fase do Campeonato Paulista sub-17 e por ter a
chance de jogar pela primeira vez no Canindé no próximo fim de semana. O
jogador estava comemorando a vaga em um churrasco com integrantes do elenco
quando desapareceu durante a tarde. O corpo do atleta foi encontrado na manhã
de quinta-feira.
O enterro do jovem aconteceu nesta sexta-feira, por volta
das 16h no Cemitério São Pedro, na Vila Alpina (Av. Francisco Falconi
- 837).
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