Ricardo Noblat
O pedido de demissão de
José Serra do Ministério das Relações Exteriores pegou o presidente Michel
Temer de surpresa. E não pegou.
Temer sabia que pouco
adiantara a operação de coluna feita por Serra na véspera do Natal passado. E
que ele se queixava de fortes dores.
Sabia também que desde
então ele só fazia viagens para o exterior acompanhado por um médico.
Mas não imaginava que o
ex-ministro chegaria a pedir demissão do cargo. Estava pronto para vê-lo de
licença pelos meses que precisasse. Mas só.
Quando Serra, no início
da noite de ontem, reuniu-se com Temer e anunciou que deixaria o governo, o
presidente pouco pode fazer.
Até porque, àquela
altura, a informação de que Serra estava demissionário já circulava em
Brasília. Era um fato consumado.
Foram vários os amigos
que nos últimos 15 dias aconselharam Serra a largar o governo para tratar da
saúde.
Serra convenceu-se
quando um laudo médico atestou a necessidade de ele se submeter a uma
fisioterapia que o ocupará pelos próximos quatro meses.
Nem só por isso pediu
demissão. Serra não estava feliz no cargo. Sonhava ser escalado por Temer para
ministro da Fazenda.
E pela terceira vez ao
longo de sua carreira política, o Ministério da Fazenda escapou-lhe.
A primeira foi quando
Itamar Franco, sucessor de Fernando Collor, começou a montar sua equipe de
governo.
O PT recusou-se a
apontar nomes para o governo de Itamar. Mas Lula, por meio de Fernando Henrique
Cardoso, sugeriu o nome de Serra para a Fazenda.
Itamar conversou a
respeito com Serra. Depois comentou com Fernando Henrique:
- Ele é muito bom.
Entende de tudo. Mas vai acabar querendo o meu lugar.
Serra ambicionou o
Ministério da Fazenda pela segunda vez quando Fernando Henrique se elegeu
presidente em 1994.
Perdeu o lugar para
Pedro Malan. Foi ministro do Planejamento e, mais tarde, da Saúde, onde se
destacou.
A informação de que seu
nome fora citado por um dos delatores da Lava Jato deixou Serra arrasado. E
pesou também na sua decisão de ir embora.
Tão logo possa, Serra
voltará ao Congresso para cumprir, ali, seu mandato de senador. Ministro e
senador têm direito a foro especial.
Como senador, Serra terá
livre acesso a uma tribuna muito mais poderosa não só para se defender de
eventuais acusações, como para reconquistar o protagonismo político que havia
perdido.
Em resumo: ele não saiu
da cena política por ter saído do Itamaraty. Ele voltará a ela. Não desistiu do
jogo – quer voltar a jogar na posição que escolher.
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