O silêncio do governo de Michel Temer diante da crise
moral diz muito sobre o momento que o Brasil atravessa. O Planalto reage ao
terremoto se escondendo em baixo da mesa. Finge-se de morto. E celebra o fato
de que a Odebrecht jogou escombros na cabeça de tanta gente que ficou difícil
distinguir um corrupto do outro. Assim, Temer sente-se mais à vontade para
manter os seus suspeitos nos ministérios. E como há males que vêm para pior, o
presidente pensa em criar um novo ministério para abrir outra frente de
suspeição. Vem aí o Ministério do Saneamento Básico.
Há três semanas, o vice-presidente da Câmara, deputado
Fábio Ramalho, do PMDB de Minas Gerais, subiu à tribuna para anunciar: ''Estou
rompendo com o governo. Se Minas Gerais não tem ninguém capacitado para ser
ministro, não devemos apoiar esse governo.” O correligionário de Temer disse
que trabalharia para derrotar o governo em tudo, inclusive na estratégica
reforma da Previdência. Foi uma cena de chantagem explícita. E parece ter
funcionado.
Temer cogita entregar a nova pasta para a bancada do PMDB
de Minas, a mesma que controlava a diretoria Internacional da Petrobras, um dos
tumore$ lancetados pela Lava Jato. Fará isso para apagar um foco de
descontentamento que ameaça a reforma da Previdência. É espantoso que Temer
queira criar o Ministério do Seneamento num instante em que a Odebrecht expõe o
lodo da corrupção a céu aberto. Apelar para o fisiologismo numa hora dessas é
um atentado à inteligência. Vai ficando claro que, depois do déficit moral, o
maior déficit do país localiza-se entre as orelhas dos governantes e de seus
apoiadores.
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