Do Uol Notícias
O dono da JBS, Joesley Batista, afirmou à PGR
(Procuradoria-Geral da República) que o presidente Michel Temer (PMDB) deu aval
à compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB) e do operador Lúcio
Funaro, ambos presos na Operação Lava Jato. A informação foi divulgada pelo
jornal "O Globo" nesta quarta-feira (17).
De acordo com a publicação, as informações fazem parte de
uma delação de Joesley que ainda não foi homologada pelo STF (Supremo Tribunal
Federal). O depoimento do empresário foi dado à PGR em abril e, no dia 10
passado, o conteúdo foi comunicado ao ministro do Supremo Edson Fachin, relator
da Lava Jato na Corte.
Ainda de acordo com o jornal, a conversa entre Joesley e
Temer teria acontecido no dia 7 de março no Palácio do Planalto. O empresário
teria gravado a conversa com um gravador escondido.
Segundo a reportagem de "O
Globo", Joesley disse ter contado a Temer que estava pagando a
Cunha e Funaro para ficarem calados. O presidente, segundo o empresário,
responde: "Tem que manter isso, viu?"
A publicação também informou que a PF registrou ao menos
uma entrega de R$ 400 mil para Roberta, irmã de Lúcio Funaro. Já o dinheiro
para Cunha seria entregue a Altair Alves Pinto. Altair já fora apontado
pelo operador Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, como o responsável por
receber as propinas destinadas ao ex-deputado.
Cunha teria agido a favor da J&F em projetos de lei e
no fundo FI-FGTS, que investiu mais de R$ 1 bilhão em empresas do grupo.
O empresário disse ter pagado ao menos R$ 5 milhões a
Cunha depois de sua prisão, e ainda devia mais R$ 20 milhões relativos à
tramitação de uma lei que previa a desoneração de impostos no setor de frango.
Deputado teria resolvido "assunto" da J&F
Ainda de acordo com o relato de Joesley publicado
por "O Globo", Temer indicou o deputado Rodrigo Rocha Loures
(PMDB-PR) para resolver "um assunto" da J&F, a holding que
controla a JBS. Depois, Rocha Loures foi filmado recebendo uma mala com R$ 500
mil mandados pelo empresário.
A "pendência" da J&F com o governo, segundo
Joesley, era uma disputa relativa ao preço do gás fornecido pela Petrobras à
termelétrica EPE, que pertence ao grupo. Loures teria ligado para o presidente
do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), Gilvandro Araújo, para
interceder pela J&F. Pelo serviço, Joesley teria oferecido a Loures uma
propina de 5%, que teria sido aceita pelo deputado.
Depois, Joesley e Ricardo Saud, diretor da JBS, teriam
acordado com Loures o pagamento de uma propina de R$ 500 mil semanais por 20
anos --o que totalizaria quase meio bilhão de reais. O deputado teria dito que
levaria a proposta a alguém acima dele.
Ao menos uma entrega de R$ 500 mil a Loures, feita por
Saud, teria sido flagrada pela PF em São Paulo.
Joesley, Saud e mais cinco pessoas da JBS devem pagar uma
multa de R$ 225 milhões, segundo "O Globo".
Por volta das 21h30 desta quarta-feira, o
Palácio do Planalto emitiu nota em que nega envolvimento do presidente em uma
tentativa de calar o ex-deputado Eduardo Cunha. No texto, Temer
confirmou ter se encontrado com o empresário Joesley Batista no começo de
março, no Palácio do Jaburu, sua residência oficial, em Brasília, mas disse que
"não houve no diálogo nada que comprometesse" sua conduta.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a
JBS informou que não vai se posicionar sobre as eventuais gravações feitas
por Joesley Batista e reveladas pelo jornal O Globo.
Marlus Arns, advogado de Eduardo Cunha, afirmou que seu
escritório nunca foi procurado por ninguém da JBS e que nunca tratou com
Eduardo Cunha sobre colaboração premiada.
O advogado do economista Lúcio Funaro, Bruno Espiñera,
disse não ter conhecimento sobre pagamentos em dinheiro feito a Funaro e
parentes dele. Ele disse que irá se encontrar com seu cliente, que está preso
em Brasília, nesta quinta-feira (18).
"Estou tão surpreso com essa informação quanto
qualquer outra pessoa. Não tinha conhecimento dessas informações, mas até falar
com meu cliente e saber o que ele tem a dizer sobre isso, vou continuar
tratando essas informações como mais uma delação que ainda precisa ser
confirmada", afirmou.
Procurada, a PGR (Procuradoria-Geral da República) disse,
por meio de sua assessoria de imprensa, que não se manifestará sobre eventuais
acordos de colaboração que ainda não foram homologados.
O UOL está tentando contato com a assessoria de
imprensa do deputado Rodrigo Rocha Loures.
Aécio também foi gravado
Joesley Batista
afirmou à PGR, ainda de acordo com "O Globo", que também gravou
o senador Aécio Neves, presidente do PSDB, lhe pedindo R$ 2 milhões. O
dono da JBS entregou à PGR um áudio em que o tucano pede a quantia sob a
justificativa de pagar despesas com sua defesa na Lava-Jato.
O momento da entrega do dinheiro a um primo de Aécio foi
filmado pela Polícia Federal. A PF descobriu que a quantia foi depositada numa
empresa do senador Zezé Perrella (PSDB-MG).
O UOL está tentando contato com as assessorias
de imprensa de Aécio Neves e Zezé Perrella. Nenhum deles ainda respondeu.
Empresário implica Mantega e Palocci
Ainda de acordo com "O Globo", Joesley disse
que o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega era seu contato no PT para a
distribuição de propina a petistas e aliados. Mantega também atenderia a
interesses da JBS e da J&F no BNDES.
Já o ex-ministro chefe da Casa Civil,
Antonio Palocci, foi contratado pela JBS como consultor e atuava como uma
espécie de orientador do empresário no meio político. Segundo Joesley, Palocci
não se envolveu nos pedidos de suas empresas no BNDES, mas pediu doação de
campanha ao PT via caixa dois. De acordo com "O Globo", o pedido foi
atendido.
Adriano Bretas, advogado de Palocci, afirmou que pedir
doação de campanha trata-se de "ato político absolutamente corriqueiro. Se
a doação foi feita, resta saber se foi declarada". Ele também reiterou que
o ex-ministro "jamais se envolveu nos empréstimos do grupo JBS
perante o BNDES".
O UOL está tentando contato com a assessoria de
imprensa de Guido Mantega.
JBS faturou R$ 170 bilhões em 2016
Em seu site, a JBS se apresenta como "uma das
líderes globais da indústria de alimentos", com mais de 230 mil
funcionários ao redor do mundo. A empresa abriu seu capital na Bolsa de Valores
de São Paulo em 2007. No ano de 2016, segundo informes financeiros
da empresa, a JBS a companhia registrou receita líquida de R$ 170,3
bilhões. O lucro líquido foi de R$ 376 milhões.
A JBS é uma das empresas da holding J&F, que inclui
companhias de setores variados. São elas: Vigor (derivados de leite),
Alpargatas (calçados e vestuário), Eldorado Brasil (celulose), Flora (higiene e
limpeza), Banco Original, Âmbar (energia), Canal Rural, Oklahoma (criação de
gado nos EUA, Austrália e Canadá) e Floresta Agropecuária (criação de gado no
Brasil).
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