Bruno Boghossian – Folha de S.Paulo
Em um jantar no início de maio, Jair Bolsonaro (PSL)
respirava fundo enquanto empresários e jornalistas falavam. Em um esforço de
autocontrole, o presidenciável juntava as mãos em formato de triângulo perto da
boca ao ouvir as opiniões dos comensais. "Quantas vezes esperei vocês
terminarem de falar? Antes, interrompia sempre", explicou-se, no evento do
site Poder360.
Bolsonaro ganhou seguidores graças a seu comportamento
feroz, mas percebeu que precisa segurar os impulsos para aumentar suas chances
na eleição. Na pré-campanha, o ex-capitão começa a ensaiar um tom moderado. Se
vencer, governará com os braços agitados de sempre ou com as mãos em frente à
boca?
O candidato do PSL é imprevisível. Num dia, critica o bloqueio
de rodovias. Depois, faz uma defesa enfática dos caminhoneiros parados nas
estradas. Passadas 24 horas, diz que o movimento passou dos limites.
As rédeas frouxas que Bolsonaro impõe a si mesmo confundem
tanto os eleitores que o observam com desconfiança quanto os integrantes de sua
base fiel. O ex-capitão foi criticado por alguns apoiadores, por exemplo,
quando rechaçou a possibilidade de uma intervenção militar.
Bolsonaro respira fundo e defende uma política econômica
ultraliberal, mas tem recaídas frequentes e retoma o ímpeto estatizante que
marcou sua vida política. Até agora, é impossível saber se o presidenciável
conduziria a economia com a mão direita ou com a mão esquerda.
Em campanha, o deputado coloca uma máscara conciliadora
para disfarçar a fama de intolerante. Tenta controlar os rompantes que renderam
uma denúncia por racismo e um processo por apologia ao estupro.
Há cerca de 10 dias, o ex-capitão tentou justificar seu
comportamento mais contido. "Vou continuar atirando, mas agora com
silenciador", afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo. A metáfora bélica
sugere que Bolsonaro adapta seu discurso para conquistar o eleitorado, mas pode
voltar a empunhar uma metralhadora barulhenta se alcançar ao poder.
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