Josias de Souza
O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal,
passou a deferir pedidos de habeas corpus em ritmo industrial. Num intervalo de
15 dias, Gilmar expediu 15 alvarás de soltura. O penúltimo foi rubricado nesta
sexta-feira. Ganhou o meio-fio Orlando Diniz, ex-presidente da Federação do Comércio do
Rio de Janeiro. Estava atrás da grades desde fereveiro. É acusado de se
apropriar de R$ 10 milhões em verbas públicas.
Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, apontado como
operador de propinas do PSDB paulista, foi contemplado com dois dos 15 habeas
corpus de Gilmar. Solto uma vez, voltou a ser preso na última quarta-feira. Gilmar
mandou soltá-lo novamente horas depois. Estendeu a ordem à filha dele, Tatiana
Cremonini.
Dois dias antes, na segunda-feira, foram liberados por
Gilmar o ex-secretário estadual de Administração Penitenciária do Rio de
Janeiro, Cesar Rubens Monteiro de Carvalho e o doleiro Sérgio Roberto Pinto da
Silva.
O rol de liberados por Gilmar na segunda quinzena de maio
inclui Hudson Braga, secretário de Obras do multicondenado Sergio Cabral,
ex-governador do Rio; Carlos Miranda, principal operador de Cabral. Também foi
para casa Milton Lyra, um lobista ligado a caciques do MDB do Senado
—investigado em inquérito sobre desvios no Postalis, o fundo de pensão dos
Correios.
Nas pegadas de Milton, deixaram o xilindró por ordem de
Gilmar outros quatro presos enrolados no mesmo inquérito sobre fundos de
pensão: Marcelo Sereno, ex-secretário nacional de comunicação do PT; Adeilson
Ribeiro Telles, do Postalis; Carlos Alberto Valadares Pereira, ex-membro do
Conselho de Administração do Serpros, fundo de pensão do Serpro; eRicardo
Siqueira Rodrigues, operador financeiro.
De resto, o ministro do Supremo mandou abrir as celas do
empresário Sandro Alex Lahmann e do delegado Marcelo Luiz Santos Martins, ambos
envolvidos em inquérito que apura irregularidades no sistema prisional do Rio
de Janeiro.
Há seis dias, outro ministro do Supremo, Luís Roberto
Barroso, declarou, numa palestra para juízes: “Existe uma minoria muito bem
protegida no Brasil, atualmente: são os corruptos. Pessoas que desviaram
milhões e mantêm suas contas no exterior e são libertadas a granel.”
Sem mencionar o nome de Gilmar Mendes, Barroso acrescentou
que as liberações em série “expõem e desprestigiam os juízes de primeiro grau,
que enfrentam essa cultura de desigualdade que sempre protegeu os mais riscos,
essa cultura de compadrio. E as pessoas que ousam corajosamente romper com esse
círculo vicioso da história brasileira são frequentemente desautorizadas,
quando não humilhadas, por decisões judiciais de tribunais mais elevados.”
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