Ramón* nem bem coloca a cabeça para fora do rio Guaire e já
mergulha de novo. A cada vez que sai das águas escuras do maior esgoto de
Caracas, capital da Venezuela, o rapaz de 27 anos volta à superfície com um
punhado de terra nas mãos.
Tateia com os dedos procurando qualquer joia de ouro ou
prata que possa ter caído pelo ralo da casa de algum afortunado. Joga em um
balde plástico o que encontra de valor para lavar e analisar com calma mais
tarde.
Em poucos segundos, enfia a cabeça na água. Sobe de novo. E
repete o processo por mais uma, duas, três vezes.
Como milhares de outros caraquenhos, Ramón é um garimpeiro
do esgoto. Tenta encontrar qualquer coisa que possa ser revendida e
transformada em dinheiro. É o que talvez garanta o sustento de sua mulher e do
filho de quatro anos.
Vestindo apenas galochas e shorts, passa o dia na água
rodeado de lixo, fezes e outros dejetos que boiam ao seu redor, levados até ali
pelos canos de esgoto das quase 600 mil casas da capital venezuelana que
deságuam no rio.
A sujeira e o forte odor já não o incomodam mais. A cada
dia, tem se acostumado com realidade para conseguir comprar comida.
O garimpo ilegal acontece há décadas nas águas do rio que
corta a cidade de ponta a ponta. (UOL)
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