O Nordeste se tornou um campo de batalha política no
primeiro e segundo turno das eleições. O petista Fernando Haddad venceu em
todos os estados da região. Esse fato revela que este eleitorado foi o que
menos se convenceu com o discurso do presidente eleito, Jair Bolsonaro. Ele
recebeu 13 milhões de votos nos estados nordestinos ante os 20 milhões do
oponente. Com a equipe ministerial fechada, nenhum dos integrantes do primeiro
escalão é nordestino. Mais do que um grande colégio eleitoral, a terra onde nasceu
Padre Cícero, serviu de inspiração para os poemas de Jorge Amado e foi palco de
reflexões sobre a natureza por Castro Alves, representa um grande desafio para
o desenvolvimento humano e para o próximo chefe do Executivo, que terá como
dever combater problemas históricos e garantir a dignidade de milhões de
nordestinos.
Atualmente, além da violência endêmica que cresce na
região, os moradores enfrentam o grave problema da fome, que já atinge 6
milhões de habitantes. A seca extrema, que atinge a região durante seis meses
do ano é responsável pela morte de animais e de plantas e provoca a escassez de
alimentos. Outro drama é a pobreza, que castiga a população nordestina. De
acordo com o IBGE, lá estão as menores rendas das cinco regiões do país. De
acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o
estado do Maranhão tem o rendimento per capita mais baixo das 27 unidades da
Federação. Na cidade de Água Doce, no estado, de acordo com levantamento do
IBGE do ano passado, a renda média por pessoa entre os 12 mil habitantes é de
R$ 172 por mês. Esse valor está próximo dos R$ 136 mensais definidos pelo Banco
Mundial para caracterizar extrema pobreza.
Um estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV)
aponta que a cada R$ 1 investido no Bolsa Família, R$ 1,78 é injetado na
economia, com elevação do Produto Interno Bruto (PIB). Isso ocorre, de acordo
com o estudo, por conta do programa movimentar a economia dos pequenos
municípios. O impacto do programa no Nordeste é duas vezes maior do que nas
demais regiões do país, já para cada R$ 1 investido na Previdência, o retorno é
de R$ 0,50.
O encolhimento da renda no Nordeste foi de 6,5% ante 4,3%
no Brasil. Um total de 29,3% dos domicílios da região recebem bolsa família,
segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua,
divulgada no ano passado, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE).
O professor Marcelo Neri, economista-chefe do Centro de
Políticas Sociais da FGV, afirma que o próximo presidente terá que manter e
expandir programas como o Bolsa Família, para garantir renda e redução da
pobreza na região. “É importante pensar em melhorias no programa de
transferência de renda. Uma das propostas que surgiram foi a concessão de 13º
salário aos beneficiários do programa”, defende. Na opinião de Neri, seria importante
também que o recurso extra pudesse ser sacado em qualquer época em que o
usuário precisasse. “É necessário compatibilizar esses programas com a criação
de incentivo para que as pessoas queiram buscar emprego”, disse.
Em mensagem publicada no Twitter, na sexta-feira, o
presidente eleito respondeu a críticas sobre seus planos para estados nortistas
e nordestinos e disse que muitos brasileiros da região vão trabalhar
diretamente com ele nos próximos quatro anos. “Ressalto ainda que as regiões
Norte e Nordeste terão olhar especial do nosso governo, principalmente pelo
grande potencial econômico que possuem”, escreveu. (Diário de Pernambuco)
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