Nas primeiras semanas de seu Governo, Jair Bolsonaro foi
colocado frente a frente com uma de suas principais bandeiras eleitorais, a da
segurança pública, principal preocupação de 58% da população, segundo pesquisa
da XP Investimentos divulgada nesta semana. A grave crise, uma série
de ataques no Ceará que ocorre há duas semanas, fez com que sua
gestão recorresse ao mesmo artifício que todos os governos anteriores: enviou
profissionais da Força Nacional e cedeu vagas em presídios federais para
lideranças de facções criminosas. Ou seja, mais do mesmo. Os grupos criminosos
organizados são apontados como os responsáveis por ao menos 220 ataques em 51
cidades cearenses —quase metade deles na capital, Fortaleza. Atado pela falta
de continuidade em ações e de um programa de Estado e surpreendido pela
onda de crimes, o presidente se viu obrigado a ceder para um governador que
sempre lhe fez oposição, o petista Camilo Santana.
“O Bolsonaro não agiu por conta própria, apenas reagiu a um
pedido do Governo local”, ponderou o sociólogo Ignácio Cano, do Núcleo de
Estudos da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Na
mesma linha, seguiu o diretor-executivo do Fórum Brasileiro de
Segurança Pública, o sociólogo Renato Sérgio de Lima. “Por enquanto, para
problemas antigos, as soluções foram as mesmas dos Governos anteriores”, disse
Lima. Até o momento, nenhum novo plano foi sequer anunciado como sendo planejado
pelo novo Governo. A grande ação da nova gestão na área, até o momento, foi
flexibilizar a posse de armas no país, algo considerado inconstitucional por órgão do MPF
nesta sexta-feira.
Não se pode dizer que os ataques coordenados a partir de
ordens de presídios tenham sido algo surpreendente no país. Há cinco anos, o
mês de janeiro registra desde pequenas rebeliões até massacres ordenados por
lideranças de grupos criminosos. Os mais graves ocorreram em Pedrinhas,
no Maranhão (2014); em Boa
Vista, Roraima; em Manaus,
Amazonas; em Alcaçuz,
Rio Grande do Norte (2017); e em Aparecida
de Goiânia, Goiás (2018).
A diferença, dessa vez, é que não há violência contra ou
entre os detentos, apenas reações fora das prisões, o que aparece assustar
ainda mais a população. “Estamos tirando a comunicação e as regalias. E isso
tem resultado nessa série de ações nas ruas no sentido de intimidar o Estado. A
nossa decisão é manter firme e mostrar que quem manda é o Estado”, afirmou o
governador cearense Camilo Santana. (EL País Brasil)
Nenhum comentário:
Postar um comentário