Aos poucos a realidade do semiárido nordestino vai mudando
de feição. Em Carnaíba, a 323 quilômetros do Recife, o cajueiro está servindo
para repovoar a terra antes ocupada pela plantação da oiticica, dizimada devido
à seca prolongada que se abateu sobre o Sertão do Pajeú. Cerca de 60% dos
cajueiros, que também ocupavam boa parte da região, foram devastados pela estiagem
nos últimos seis anos e pela praga da mosca branca. As chuvas recentes trouxeram
um novo alento ao homem sertanejo e, consequentemente, passaram a favorecer o
plantio da planta, que está sendo retomado. No ano passado, a Secretaria de Agricultura
de Carnaíba deu início à distribuição de 20 mil mudas de cajueiros com as
comunidades rurais do município. O cajueiro também aportou na região em
substituição ao algodão, que teve seu período áureo há algumas décadas mas
deixou de ser explorado. Uma das comunidades que viu o declínio econômico por conta
da falência na produção do chamado “ouro branco” foi a Lagoa do Caroá, que chegou,
por conta da crise, a apresentar um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano
(IDH) de Carnaíba.
O povoado somente começou a se erguer como cultivo dos cajueiros,
que agora passam a ganhar uma nova ênfase da gestão municipal. A agricultora
Maria José Mendes da Silva, 53 anos, é uma das beneficiadas coma distribuição
de mudas. Moradora do povoado Lagoa do Caroá, a cerca de 16 quilômetros do
Centro, Maria José mantém aproximadamente dois hectares plantados com cajueiros
e é praticamente uma das maiores produtoras de castanha da região. “Quando a
safra chega faz a alegria dos agricultores”, salienta Maria José, que tem uma
média de 40pés plantados. Parte deles foi afetada pela praga da mosca branca.
“Só agora estamos nos recuperando”, relata a agricultora. Apesar das perdas, no
ano passado ela conseguiu tirar oito sacas com 60 quilos de castanhas, cada
uma. As castanhas geralmente são vendidas para fábricas de beneficiamento na
vizinha Afogados da Ingazeira.
Apesar de cultivar outras plantas frutíferas, como laranja e
acerola, Maria José investe no plantio de cajueiro por ser, segundo diz, de fácil
manejo. Por conta disso, no período de inverno, ela já chegou a tirar até
100sacas de castanhas. O preço varia de acordo com a safra, podendo ficar entre
R$ 130e R$ 150. “É uma renda extra para nós que vivemos da roça”, garante Maria
José. A agricultora relembra que enfrentou tempos difíceis quando tinha que puxar
água de cacimba para irrigaras plantações de cajueiros. “Foi muito sofrido mas
valeu a pena”, recorda.
Assim como ela, quase todos os moradores da pequena Lagoa
do Caroá se beneficiada plantação de cajueiros. A associação dos trabalhadores
rurais da comunidade congrega 80 associados. Cada um deve receber 25 mudas da
Secretaria de Agricultura de Carnaíba. A associação mantém uma pequena
indústria de beneficiamento de frutas e aguarda a chegada da safra, prevista para
os meses de outubro a novembro, para poder trabalhar com o caju, segundo o
presidente Manoel Laurindo Rodrigues, 53 anos. A polpa da fruta beneficiada serve,
inclusive, para a merenda escolar do município.
Vanildo Nicácio da Silva,46 anos, é um dos associados que
recebeu as mudas de cajueiros. Plantadas, as mudinhas já começam a brotar. A
expectativa é que daqui dois anos comecem a dar frutos. Vanildo templantados50
pés. Já teve até 100, mas a praga dizimou a plantação pela metade. Aos poucos, ele
foi substituindo o feijão e milho pelo cajueiro. “A castanha é venda certa”, revela.
No auge da safra, o agricultor chegou a colher até 25 sacas de castanhas. “A venda
da castanha ajuda bem, dá uma boa feira”, diz Vanildo Nicácio.
APOSTA
É por este motivo que Maria Marcilene dos Santos, 28anos,
vizinha de Vanildo, resolveu receber as mudas distribuídas pela Secretaria de Agricultura.
Com renda oriunda apenas do Bolsa-Família, ela aposta no plantio dos cajueiros
para melhorar de vida. “Quero sair do sufoco, do aperto”, destaca.
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