Se o médico disser que ele tem algum problema, eu vou amar do mesmo jeito. O que vale é o amor da mãe, diz Valéria, de 17 anos, mãe de Arthur (Foto: BBC BRASIL/Camilla Costa) |
Em Itapetim, no sertão
de Pernambuco, 11 mães que foram notificadas por estarem com seus bebês
suspeitos de terem contraído microcefalia enfrentam a angústia de não terem
diagnóstico definitivo sobre uma condição que pode mudar a vida de suas
famílias.
Elas moram a cerca de
400 km do Recife, e mesmo notificadas no final do mês de novembro, terão que
esperar até o dia 28 de dezembro para que seus bebês sejam examinados no
Hospital Oswaldo Cruz, na capital, centro de referência para a investigação da
má-formação.
Em todo o Estado, já são
804 notificações — 251 dos bebês são crianças com o perímetro cefálico (medida
da cabeça em sua parte maior) de 32 cm ou menos, que se enquadram na definição
de microcefalia da Organização Mundial de Saúde.
Tanto as mães como as
autoridades locais têm mais dúvidas do que respostas sobre a má-formação e sua
relação com o zika vírus, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti.
"Na realidade, para
nós é tudo novo. Tem menos de um mês que soubemos, a coisa estourou de uma vez.
Soubemos que Pernambuco tinha 300 casos, logo já estava em 700. Tivemos que
notificar logo as que chegaram", disse a BBC Brasil Arquimedes Machado,
prefeito da cidade.
Em Itapetim, a maior
parte das mães foi notificada quando Pernambuco ainda admitia em seu protocolo
de microcefalia bebês que nasceram com 33 cm de perímetro cefálico. A mudança,
anunciada na semana em que a reportagem visitou a cidade, causou confusão entre
elas. Cinco bebês atendem ao novo protocolo, mas todos serão examinados, para
garantir que nenhum deles teve lesões causadas por uma possível infecção por
zika vírus nas mães.
"Eu não queria ir
pra Recife por que as pessoas da minha família ficavam dizendo que a criança
não precisa. Mas pelo bem do meu filho e pra tirar aquele peso, decidi
ir", conta Valéria Barros, de 17 anos, mãe do pequeno Arthur Emanuel, de 2
meses.
"Se a criança tiver
alguma coisa no futuro e eu não tiver feito os exames, posso me sentir
culpada."
Arthur nasceu com o
perímetro cefálico de 33 cm. Portanto, fora do protocolo atual. Valéria, no
entanto, teve os sintomas do zika pouco antes de completar quatro meses de
gravidez. Segundo as autoridades de saúde pernambucanas, foram encontradas
lesões no cérebro de um pequeno percentual de bebês com essa medida.
"A pediatra me
explicou que estavam confirmando que a microcefalia era por causa do zika e que
poderia dar paralisia, falta de visão, falta de audição, essas doenças físicas,
falta de desenvolvimento no corpo. Eu fiquei preocupada, deu vontade de chorar."
"Mas se a gente for
pra Recife e o médico disser que ele tem algum problema, eu vou amar do mesmo
jeito. O que vale é o amor da mãe", afirma.( G1 )
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