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sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Zika vírus associado à hidrocefalia



Diário de Pernambuco

Quando estava grávida, a baiana Maria (nome fictício) ouviu, durante um exame de ultrassom, que a cabeça do filho não tinha o tamanho esperado para a idade gestacional. A palavra microcefalia assustou no diagnóstico. Na época, primeiro semestre deste ano, não se falava sobre a malformação como hoje. O bebê nasceu com 33,5 cm de perímetro cefálico (é considerado microcefalia com 32 cm ou menos), e o caso não foi notificado como suspeito da doença. 

Meses depois, porém, médicos descobriram que a cabeça do recém-nascido só havia crescido porque lesões cerebrais decorrentes da infecção por zika vírus também haviam causado hidrocefalia, quando há acúmulo excessivo de líquido dentro do crânio, aumentando o tamanho da cabeça.

Sem diagnóstico da doença, a criança ficou sem acompanhamento durante dois meses. Quando a microcefalia e a hidrocefalia foram confirmadas, ele precisou passar por uma cirurgia de urgência. O caso foi pesquisado pelo médico especialista em medicina fetal e professor adjunto da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Manoel Sarno. Desde julho deste ano, ele coordena um grupo de estudos que iniciou pesquisa de acompanhamento de 100 gestantes com manchas vermelhas (um dos sintomas do zika vírus) pelo corpo. 

O médico conta que, quando começou o trabalho, em 24 de julho deste ano, não havia informações de que poderia existir uma epidemia de microcefalia no país. O Ministério da Saúde declarou situação de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN) quase quatro meses depois, em 12 de novembro. 

“Com as informações que circulam nacionalmente, estamos fazendo uma avaliação retrospectiva dos casos de microcefalia, ou seja, investigando como foi a gestação depois que os bebês chegam”, explicou Sarno. Segundo ele, 85% das mães de crianças com microcefalia ouvidas pela equipe relataram ter tido sintomas de zika vírus no primeiro trimestre da gravidez.

Além de tabular dados sobre a gestação das mulheres, o grupo de estudo também está analisando as lesões cerebrais causadas pela infecção por zika. Anomalias cerebrais já foram identificadas, como calcificação de grandes áreas do cérebro e dilatações ventriculares. “A dilatação pode causar um acúmulo de líquidos e, no futuro, há a possibilidade de isso levar à hidrocefalia”, esclareceu o médico.


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