Após o vírus zika
surpreender com sua rápida disseminação e possível associação com a
microcefalia, especialistas brasileiros alertam para os riscos de outras
doenças virais transmitidas por mosquitos, as chamadas arboviroses. Nas últimas
três décadas, mais que dobrou o número de arbovírus catalogados no Brasil.
Segundo registros do Instituto Evandro Chagas, órgão referência em medicina
tropical e vinculado ao Ministério da Saúde, já circulam no território nacional
210 arbovírus, ante 95 na década de 1980. Pelo menos 37 são capazes de provocar
doenças em humanos e três deles chamam a atenção por já terem causado pequenos
surtos em áreas urbanas.
Uma delas é a febre do
Mayaro, doença com sintomas parecidos com os da chikungunya e transmitida por
mosquitos do gênero Haemagogus, mesmo vetor da febre amarela silvestre. A
arbovirose já foi registrada em vários Estados do Norte e Centro-Oeste. Os mais
recentes dados epidemiológicos disponíveis no site do Ministério da Saúde
mostram que, entre dezembro de 2014 e junho de 2015, foram 197 notificações
distribuídas por nove Estados brasileiros. Não há registros de mortes
provocadas pela doença, mas, assim como na chikungunya, os infectados podem
permanecer com dores articulares por semanas ou meses.
Caracterizada por
quadros febris altos e dores intensas de cabeça, a febre do Oropouche é outra
arbovirose que já causa surtos localizados, sobretudo em Estados da região
amazônica, até mesmo em bairros de capitais como Manaus e Belém. Transmitida
por um mosquito conhecido como maruim, do gênero Culicoides, a doença já foi
notificada nas últimas décadas em todas as regiões brasileiras, com exceção do
Sul, e também não costuma levar à morte.
Há ainda a encefalite de
Saint Louis, doença transmitida principalmente por mosquitos silvestres do
gênero Culex – o mesmo do pernilongo comum -, que pode causar comprometimento
neurológico e já foi responsável por um surto em São José do Rio Preto, no
interior paulista, em 2006.
De acordo com o
virologista Pedro Fernando da Costa Vasconcelos, diretor do Instituto Evandro
Chagas e pesquisador participante do grupo que catalogou boa parte dos
arbovírus no País, embora essas três doenças sejam transmitidas principalmente
por insetos silvestres de diferentes gêneros, há experimentos científicos que
já indicam que mosquitos Aedes também teriam capacidade de transmiti-las.
“No caso da febre do
Oropouche, por exemplo, o Aedes nunca foi encontrado infectado na natureza, mas
um estudo experimental em laboratório mostrou que ele pode ser vetor dessa
doença e que seria um bom transmissor”, afirma o especialista.
Segundo Vasconcelos, o
fato de os três vírus estarem presentes no Brasil há mais de 60 anos – eles
foram isolados entre as décadas de 1950 e 1960 – sem terem causado epidemias de
alcance nacional não permite dizer que nunca farão estragos. “Eu não quero ser
pessimista, mas o zika passou 60 anos no mundo sem causar nenhum problema e
vimos o que aconteceu (foi descoberto em 1947 na África). Não dá para dizer que
esses três vírus não provocarão nenhum problema por já estarem no Brasil. Pode
ser que nunca causem, mas é bom não duvidar”, diz o diretor do Instituto
Evandro Chagas, que cobra mais pesquisas na área.
“Dos 210 arbovírus
catalogados no Brasil, há esses 37 que já comprovamos que causam doença em
humanos, mas, do restante, a maioria a gente desconhece completamente”, diz.
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