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quarta-feira, 7 de setembro de 2016

“Diretas Já”, o grito que assombra Temer mesmo sem eleições no horizonte


Diretas Já nas manifestações fora Temer eleições

Na análise de seus auxiliares, Michel Temer cometeu um erro político aosubestimar o potencial dos primeiros protestos contra seu Governo dizendo que eles são “grupos mínimos”, "as 40 pessoas que quebram carro" durante a viagem à China, sua primeira como presidente ratificado. Por isso, o movimento do Planalto, um dia depois do protesto que reuniu milhares em São Paulo contra o Governo pedindo novas eleições presidenciais, foi calibrar a mensagem. O primeiro a ensaiar o novo discurso foi o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Ainda na China, onde participa do encontro do G20, o chefe da equipe econômica falou em número substancial, "apesar de minoritário". Ainda que um novo pleito seja considerado improvável, se não impossível, no atual cenário político, analistas avaliam que o mote "diretas já", abraçado por parte das ruas desde o impeachment de Dilma Rousseff, pode ser o ponto de partida para manifestações de rua contra o pacote de reformas e cortes prometido pelo novo Governo para os próximos meses.

Por ora, a persistência dos atos com volume e força —para além do constrangimento de ministros de Temer provocado pelos gritos de "golpista", que tem se repetido —ainda está por ser provada nas ruas. Há pelo menos mais dois atos programados para essa semana: no feriado de 7 de Setembro e no dia 8 de setembro, tanto em São Paulo como no Rio de Janeiro. Se houve atos expressivos na capital paulista e em cidades como Florianópolis e Porto Alegre, a onda de indignação contra o novo Governo não apareceu em Brasília com o mesmo ímpeto: um dos únicos protestos na cidade aconteceu no Ministério do Planejamento, ocupado na madrugada desta segunda-feira por manifestantes sem-terra que pedem a volta de assentamentos e dizem não reconhecer o atual Governo. Porém, não pediram novas eleições explicitamente.

“Objetivamente, não há chances de novas eleições diretas para presidente. Esses protestos servem para denunciar que Temer é um presidente sem votos, que não dialogou com a sociedade porque não apresentou suas propostas na campanha eleitoral de 2014. Mas para nisso”, afirmou o diretor do Departamento Intersindical de Análise Parlamentar (DIAP), Antônio Augusto de Queiroz.

Para a socióloga Esther Solano, professora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o mote "diretas já" dificilmente conseguirá atrair os setores mais à direita, que não se identificam com os protestos "Fora Temer", mas podem atrair uma parcela da sociedade civil que se considera progressista, mas que não foi às ruas contra o impeachment pelo descontentamento com o Governo Dilma. Na avaliação da socióloga, porém, a pauta é "frágil", pois "parte da esquerda também se recusa a abraçar as 'diretas já' por ver nisso uma legitimação do impeachment", diz. "Mais forte é a reação contra as medidas de austeridade propostas pelo Governo Temer, como os retrocessos sociais propostos com as mudanças na CLT, por exemplo, que tem uma capacidade de mobilização muito maior", avalia.

O cientista político Luis Felipe Miguel, professor da UnB (Universidade de Brasília), considera que os pedidos de novas eleições, proposta apoiada por 62% da população segundo pesquisa Datafolha de julho, em caso de renúncia dupla, deve ganhar força nas manifestações, mesmo que seja para impor um constrangimento a Michel Temer, que em sua primeira declaração pública disse que não irá tolerar ser chamado de "golpista". A frase do peemedebista não pegou bem entre parte da população que viu na declaração uma espécie de "provocação". "[Propor novas eleições] É uma forma de desgastar o Governo e lembrá-lo, até 2018, que ele não chegou onde chegou legitimamente", diz. Assim como Solano, Miguel vê na reação às reformas propostas por Temer um maior potencial de oposição da sociedade civil. E aponto outro problema para o novo Governo: o fato de, enquanto há pessoas nas ruas se opondo à presença do peemedebista no Planalto, não há um movimento em apoio ao presidente. "Não vemos um movimento, mesmo entre os que queriam a Dilma fora, levantando a bandeira de Temer", completa. (BrasilElpaís)

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