Com reeleição
praticamente garantida, segundo pesquisas que chegaram ao conhecimento do
Palácio do Campo das Princesas, o prefeito de Iguaracy, Francisco Dessoles
(PTB), foi encontrado trabalhando normalmente em seu gabinete, na última
sexta-feira. Perguntado sobre a razão da sua derrota, disse que não sabia
explicar. “Nós tínhamos pesquisas que nos davam mais de dez pontos de
vantagem, mas resultado de eleição é como sentença de juiz, que não se discute,
tem que ser cumprida”, afirmou.
Dessoles, entretanto,
acha que foi vítima da crise que atinge violentamente os municípios
brasileiros, que se encontram quebrados em sua grande maioria devido aos
equívocos provocados pelas políticas discriminatórias da União. “Os
municípios estão na lona e são vistos hoje como um problema irresolvível, tanto
que mais de 30% dos atuais prefeitos desistiram da reeleição”, acrescentou.
Para ele, o fato de
perder uma eleição para um servidor do município, integrante do quadro de
recursos humanos da Prefeitura como motorista, não faz nenhuma diferença. “Não
podemos discriminar Zeinha por ele ser motorista. Ele tem uma folha de serviços
prestados ao município como vereador e também vice-prefeito. Eu o respeito como
respeito todos os meus adversários”, afirmou.
Ser prefeito nos dias de
hoje, segundo Dessoles, é uma missão desafiadora e quase impossível de ser
cumprida. “Falta verba para tudo, as demandas são grandes e acabamos
virando um saco de pancadas”, diz. Ele admite que o prefeito eleito conseguiu
capitalizar o apoio do eleitor jovem, prometendo festas que ele não conseguiu
realizar por falta de recursos, ressaltando que houve uma onda de mudança.
“Zeinha já esteve em meu
palanque, já foi meu aliado. Perder eleição é um componente natural da
política”, atesta Dessoles. Ele promete fazer de forma mais transparente
possível o processo de transição administrativa para o prefeito eleito, mas
negou que tenha dado orientações à sua equipe para escalá-lo para o plantão da
ambulância no dia seguinte à eleição.“Não me meto em escalas de motoristas.
Isso não passa de mais uma grande maldade típica do pós-eleição”, assinalou.
Maciel e a cidadania
Iguaracy reverencia seu
filho mais famoso: Maciel Melo, compositor, cantor e poeta dos bons. Na entrada
da cidade, o portal destaca “Terra de Maciel Melo”. Recentemente, seu talento e
brilho encantaram os brasileiros na novela Velho Chico, em horário na TV-Globo,
em que apareceu cantando e tocando. As gravações tomaram o tempo inteiro do
artista, mas não impediram que exercesse sua cidadania na terra natal.
“Há muito, não me
envolvia em política. Aliás, havia assumido um compromisso comigo próprio de
não aceitar gravação e composição de jingles para ninguém, mas abri uma exceção
para minha querida cidade”, disse Maciel. Para ele, foi uma emoção muito
grande.“Minha família toda se uniu em nome da mudança, representada num caboclo
simples, que fala a linguagem do povo”, afirmou referindo-se ao prefeito
eleito.
Maciel Melo tem o
coração, a alma e o espírito envolvidos na região banhada pelo velho e seco rio
Pajeú. Em Iguaracy, onde nasceu e se fez gente, ainda moram seus pais e irmãos,
de quem se orgulha muito. “Minhas raízes estão no Pajeú e foi muito
emocionante ver nesta eleição um movimento que brotou da força do povo para
eleger Zeinha”, ressaltou. O cantor há muito não canta para o seu povo em
praça pública, porque o prefeito prefere contratar artistas sem identidade com
a cultura local.
Ele, entretanto, diz que
seu envolvimento na campanha, depois de 16 anos ausente de palanques, não foi
motivado por questões ligadas diretamente às idiossincrasias com o prefeito que
o cortou de todas as festividades importantes do ponto de vista cultural no
município. “Exerci apenas a minha cidadania, nada mais”, enfatiza.
HISTÓRIA
Primitivamente, o
município de Iguaracy era uma área de pastagem conhecida como Logrador, de
propriedade de Antonio Rabelo. As terras foram por ele doadas à Igreja, para o
patrimônio de São Sebastião, em 1912. O padre Carlos Cottart construiu uma
casa, onde celebrava o culto, o que atraiu o comércio e moradores para o local.
Em 1914, o povoado era conhecido como Macacos. Em 1948, o nome foi mudado para
Iguaraci.
Há diversas
interpretações para o nome Iguaraci. Segundo Roberto Harrop Galvão, guaraci em
tupi antigo quer dizer “Sol”: guara significa “seres viventes”, e ci, “mãe”.
Para os tupis, o sol era uma entidade feminina, a mãe dos Viventes. O nome
Iguaraci seria uma diferenciação do município de Guaraci, em São Paulo.
Segundo Plínio Salgado,
Iguaraci significa “aurora” (i ou gua quer dizer “água”, e o sol, no Brasil,
nasce do lado do mar). Já Tibiriçá argumenta que a palavra é originária de
ycuara-assy, que quer dizer “poço pestilento”. (Por Magno Martins)
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