O general do Exército na ativa, Antonio Hamilton Martins Mourão, falou por três vezes na possibilidade de intervenção militar diante da crise enfrentada pelo País, caso a situação não seja resolvida pelas próprias instituições. A afirmação foi feita em palestra realizada na noite de sexta-feira (15), na Loja Maçônica Grande Oriente, em Brasília. “Ou as instituições solucionam o problema político, pela ação do Judiciário, retirando da vida pública esses elementos envolvidos em todos os ilícitos, ou então nós teremos que impor isso”, disse Mourão em palestra gravada, justificando que “desde o começo da crise o nosso comandante definiu um tripé para a atuação do Exército: legalidade, legitimidade e que o Exército não seja um fator de instabilidade”.
As declarações do general – que embora com o mesmo
sobrenome, não tem parentesco com o general Olympio Mourão Filho, que
desempenhou papel de destaque na deflagração do golpe militar de 1964 – ocorrem
após o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, denunciar pela
segunda vez o presidente Michel Temer por participação em organização criminosa
e obstrução de justiça. Janot deixou o cargo neste domingo (17). A atitude de
Mourão,porém, causou desconforto em Brasília. Oficiais-generais ouvidos pelo
jornal O Estado de S. Paulo criticaram a afirmação, considerada desnecessária
neste momento de crise.
Na palestra, o general Mourão seguiu afirmando que “os
Poderes terão que buscar uma solução, se não conseguirem, chegará a hora em que
teremos que impor uma solução… e essa imposição não será fácil, ela trará
problemas”. Por fim, acrescentou lembrando o juramento que os militares fizeram
de “compromisso com a Pátria, independente de sermos aplaudidos ou não”. E
encerrou: “O que interessa é termos a consciência tranquila de que fizemos o
melhor e que buscamos, de qualquer maneira, atingir esse objetivo. Então, se
tiver que haver haverá”.
Negativa
Procurado neste domingo, Mourão explicou, no entanto, que
não estava “insuflando nada” ou “pregando intervenção militar” e que a
interpretação das suas palavras “é livre”. Ele afirmou que falava em seu nome,
não no do Exército. Ao jornal, o comandante do Exército, general Eduardo Villas
Bôas foi enfático e disse que “não há qualquer possibilidade” de intervenção
militar. “Desde 1985 não somos responsáveis por turbulência na vida nacional e
assim vai prosseguir. Além disso, o emprego nosso será sempre por iniciativa de
um dos Poderes”, afirmou Villas Bôas, acrescentando que a Força defende “a
manutenção da democracia, a preservação da Constituição, além da proteção das
instituições”.
Depois de salientar que “internamente já foi conversado e
o problema está superado”, o comandante do Exército insistiu que qualquer
emprego de Forças Armadas será por iniciativa de um dos Poderes. No sábado, o
ministro da Defesa, Raul Jungmann (PPS), conversou com o comandante do
Exército, que telefonou para o general Mourão para saber o que havia ocorrido.
O general, então explicou o contexto das declarações.
Polêmicas anteriores
Esta não é a primeira polêmica protagonizada pelo general
Mourão, atual secretário de economia e finanças do Exército, cargo para o qual
foi transferido, em outubro de 2015, quando perdeu o Comando Militar do Sul,
por ter feito duras críticas à classe política e ao governo. Antes, ele já
havia desagradado ao Palácio do Planalto, ao ter atacado indiretamente a então
presidente Dilma Rousseff (PT), ao ser questionado sobre o impeachment dela e
responder que “a mera substituição da presidente da República não trará mudança
significativa no ‘status quo'” e que “a vantagem da mudança seria o descarte da
incompetência, má gestão e corrupção”.
Neste domingo, ao ser procurado pelo jornal, o general
Mourão disse que “não defendeu (a tomada de poder pelos militares), apenas
respondeu a uma pergunta”. Para o general, “se ninguém se acertar, terá de
haver algum tipo de intervenção, para colocar ordem na casa”. Sobre quem faria
a intervenção, se ela seria militar, ele responde que “não existe fórmula de
bolo” para isso. E emendou: “Não (não é intervenção militar). Isso não é uma
revolução. Não é uma tomada de poder. Não existe nada disso. É simplesmente
alguém que coloque as coisas em ordem, e diga: atenção, minha gente vamos nos
acertar aqui e deixar as coisas de forma que o País consiga andar e não como
estamos. Foi isso que disse, mas as pessoas interpretam as coisas cada uma de
sua forma. Os grupos que pedem intervenção é que estão fazendo essa onda em
torno desse assunto”, afirmou.
Mourão estava fardado ao fazer a palestra. Ele permanece
no serviço ativo no Exército até março do ano que vem, quando passará para a
reserva. O general disse ao jornal que não vai se candidatar, apesar de existir
página nas redes sociais sugerindo seu nome para presidente da República. “Não.
Não sou político. Sou soldado.”
Do Estadão Conteúdo
Nenhum comentário:
Postar um comentário