Diário do Nordeste
Quem visita a construção observa com facilidade o ritmo
lento dos serviços de engenharia e pontos ainda paralisados, com trechos do
canal sem placas e mato invadindo o eixo central ( Foto: Antonio Rodrigues )
Penaforte (CE) /Salgueiro (PE). A transferência de
água do Rio São Francisco para o Ceará fica cada vez mais incerta e distante no
tempo. As informações oriundas dos canteiros de obras em Penaforte e Salgueiro
(PE) revelam que a Transposição do Velho Chico segue devagar e tem cronograma
atrasado. Em muitos trechos, o cenário é de construção paralisada ou em ritmo
lento, com reduzido número de operários e ausência de máquinas.
O quadro traz preocupação para os gestores dos Estados de
Pernambuco, Ceará e Paraíba. Em setembro, o ministro da Integração Nacional,
Helder Barbalho, visitou parte do canteiro no Sertão Central pernambucano e reafirmou
que o esforço da pasta de concluir a obra no primeiro semestre de 2018.
Desde a visita do ministro, no entanto, pouca coisa
avançou no trecho, segundo informações de um dos engenheiros, que pediu para
não ser identificado. Quem visita a construção observa com facilidade o ritmo
lento dos serviços de engenharia e pontos ainda paralisados, com trechos do
canal sem placas e mato invadindo o eixo central.
Segundo os funcionários de Salgueiro, lá falta apenas
limpeza, acabamento e retoque. No entanto, no entorno da BR-116, a quantidade
de operários é reduzida para uma construção gigantesca. Uma ponte que deveria
estar pronta sobre a rodovia e o canal da Transposição ainda não foi concluída.
Na BR-232, na localidade de Uri, zona rural de Salgueiro, os serviços de
conclusão de uma barragem e de uma estação de controle de água também não
avançaram.
O Consórcio Emsa-Siton, que executa o trecho do Eixo
Norte trabalha com dois canteiros, um em Salgueiro, onde a obra está mais
avançada, e outro matriz em Penaforte, onde ainda tem muito trabalho a ser
feito. Segundo um funcionário da empresa que não quis se identificar lá tem
poucos equipamentos, a maioria de terceirizados. “Aqui é só moendo, devagar.
Para dizer que não está parado”, disse. Outro funcionário conta que o Consórcio
está devendo empresas terceirizadas há quatro meses.
De 14 contratadas, apenas sete continuam trabalhando. Uma
demitiu 80 funcionários por falta de recursos e ainda tem débito com alguns
desses antigos empregados. No canteiro de Penaforte, deveriam ter 1.500 pessoas
trabalhando, mas tem apenas cerca de 480, pela manhã e pela tarde. Enquanto em
Salgueiro, a execução só acontece pelo turno da manhã, com aproximadamente 180
homens.
Nos municípios Salgueiro e Penaforte, os moradores
comentam que a Emsa não continuará e que as obras vão parar em breve. Os
trabalhadores temem demissões. Da antiga construtora, a Mendes Júnior, que
abandonou a obra em junho de 2016 por falta de recursos, apenas 16% das pessoas
foram contratadas pela atual executora. Na localidade de Pau Ferro, em
Salgueiro, os serviços não avançaram. “Aqui não tem nada de máquina e de
operários”, disse o agricultor Ailton Pereira. “A gente espera por essa obra e
o sentimento é de tristeza por ver um serviço lento”, completa.
Especulações
A obra começou em 2007 e parece não ter um desfecho em
curto prazo. Diante das dificuldades técnicas, o Ministério da Integração
estaria vendo a possibilidade de notificação oficial ao consórcio Emsa-Siton
para que cumpra o cronograma da obra, que em seu trecho tem 146Km de extensão e
inclui a construção de estação de bombeamento de água e reservatório.
No entanto, a Assessoria de Comunicação negou que
houvesse notificação ao consórcio e disse que a obra segue em ritmo regular. A
empresa assinou o contrato em fevereiro e o prazo de execução é de 12 meses. A
Emsa-Siton foi procurada por telefone, e-mail e nos canteiros da obra, mas não
atendeu para explicar em que percentual está execução do trecho.
A Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), por meio de
nota, afirmou que não havia recebido qualquer comunicado do Ministério acerca
de possível notificação à empresa que executa a obra de transferência de água
do Rio São Francisco, no Trecho Norte. A SRH destacou, ainda, que, pela vontade
do Ministério, a obra deveria estar mais acelerada e a pasta tem feito todo
esforço para que a água do São Francisco chegue ao Ceará no primeiro semestre
de 2018.
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