Para as mulheres boleiras do Assentamento Normandia o trabalho tem um significado maior do que empreendimento e lucratividade. Em um espaço da agroindústria financiada pelo Governo de Pernambuco e Secretaria de Agricultura e Reforma Agrária, através do ProRural, as mulheres se encontram para cozinhar bolos e pães, mas além disso, se juntam para falar de assuntos de saúde, cultura, moda, beleza, entre outros, que enriquecem mais a autoestima e melhora a qualidade de vida das agricultoras do que visam o ganho financeiro.
O grupo de oito mulheres foi formado a partir de uma
necessidade da Associação dos Trabalhadores Rurais do Assentamento Normandia,
localizado na BR 104, em Caruaru, para atender uma demanda do Programa
Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) do município no fornecimento
de bolos para a merenda das escolas. Hoje têm contrato para entrega de 10.100
quilos de bolos para a Secretaria de Educação da cidade e já abrem novos
mercados, que agregam até R$450,00 de renda extra com a venda de bolos.
Para uma das mulheres da associação, Mauricéia Matias, as
profissionais são muito mais do que um grupo de boleiras. “Somos um grupo de
mulheres que tratamos de assuntos de mulher, inclusive de ganhar dinheiro.
Todas nós temos outra renda, mas aqui tem gente que cura até depressão”, diz
Mauricéria. Ela lembra ainda que o grupo tem mulher de mais de 70
anos, assim como de 20 anos, que se encontram mensalmente para dividir mais do
que trabalho e lucro, mas para tratar da vida.
O espaço das mulheres da Normandia não se restringe a
produção de bolos. Dos 38 trabalhadores da agroindústria, 23 são mulheres. Elas
ajudam a processar aproximadamente 150 toneladas/ano de alimento (carnes e
tubérculos), que são fornecidos para 177 escolas de 39 municípios do Agreste e Zona
da Mata Sul. Com o trabalho em regime de diárias, onde recebem R$ 50,00/dia,
chegam a receber mais de R$ 1mil por mês. O projeto, orçado em R$ R$
359.849,00, e financiado pelo Projeto Pernambuco Rural Sustentável (PRS), com
verba do acordo de empréstimo com o Banco Mundial, já movimenta R$ 5 milhões
por ano.
Novos Mercados
Com a colaboração do Grupo de Consumo Responsável Fruto
da Terra, os produtos das boleiras de Normandia chegaram aos consumidores do
Recife. A cada 15 dias, elas e mais seis agricultores da região Agreste montam
barracas na Universidade Católica de Pernambuco para vender os produtos que vêm
direto da agricultura familiar para o consumidor.
A ideia do grupo de consumo, hoje formado por
aproximadamente 60 pessoas entre voluntários e consumidores, é contribuir para
a comercialização baseada na autogestão, na produção agroecológica e do
comércio justo, responsável e consciente. Assim, cada produtor chega à feira
com a maior parte da produção já vendida e com o apoio dos parceiros (UFRPE,
IPA, Instituto Humanitas), vende cem por cento do que trazem do campo para comercializar
na capital.
Segundo o professor da Universidade Federal Rural de
Garanhuns, Caetano De`Carli, trabalhar a comercialização de produtos da
agricultura familiar foi uma demanda do Fórum de Desenvolvimento Local do
Agreste de Pernambuco, e com o Grupo de Consumo, hoje já são vendidas 10 cestas
com produtos em cada feira, o equivalente a R$1.500, que representa apenas
vinte por cento dos produtos trazidos pelos agricultores. “Eles vendem tudo o
que trazem e ainda há mercado para mais”, enfatiza.
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