Julianna Sofia – Folha de S.Paulo
Num prazo inferior a dez dias, o átimo de credibilidade que
restava à gestão de Michel Temer se desvaneceu. Foram sequenciais os
escorregões dos presidentes Ilan Goldfajn (Banco Central) e Pedro Parente
(Petrobras), os remanescentes com confiabilidade no alto escalão governista
—desprovido de peso desde a largada, há dois anos.
O BC errou na comunicação sobre o rumo da política
monetária e pegou o mercado de calça curta. Ilan e companhia emitiram sinais
que levaram 70% da banca financeira a acreditar que a taxa básica de jurosseria
reduzida na reunião do Copom da semana passada. A queda não veio devido à escalada
do dólar.
Apesar de a decisão ser vista como acertada por muitos
analistas, o ruído na comunicação deixou arranhões na imagem do BC de Ilan. Ele
foi obrigado a vir a público explicar o que alguns chamaram de barbeiragem e
atribuiu o erro a uma tentativa do Banco Central de mudar sua forma de dialogar
com o mercado. A ideia é adotar uma abordagem similar à dos BCs modernos, em
que a sinalização é condicional.
No deslize de Parente, o buraco é um pouco mais em
baixo. Pressionado pelo governo e pelo caos provocado com a paralisação
dos caminhoneiros, o presidente da Petrobras reduziu o preço do diesel em 10% e
aceitou um dano de R$ 350 milhões por congelar o valor por 15 dias. Disse fazer
um movimento tático para a petroleira não ficar mais sob fogo. Em um dia, a
empresa perdeu R$ 47 bilhões na Bolsa.
A fogueira continua, e Parente é fritado em alta
temperatura por parlamentares, que pedem sua cabeça. O acordo entre
Executivo e grevistas estendeu o congelamento a 30 dias e trocou os reajustes
diários por mensais, com a União assumindo o grosso do prejuízo. Uma tentativa
tardia de blindar a estatal, que sofre a desconfiança de investidores.
Em meio às mancadas, o terceiro nome do que um dia foi a
trinca de ouro do governo, Henrique Meirelles, ganhou oportunamente a vaga
de candidato do legado temerista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário