O PT terá pela frente uma de suas disputas
eleitorais mais difíceis desde que Lula concorreu pela primeira vez à
presidência, em 1989. A campanha deste ano será feita com o ex-sindicalista e
principal cabo-eleitoral da legenda de corpo ausente. Preso em Curitiba,
ele não deverá ter acesso aos palanques e câmeras de TV. Neste cenário inédito,
o partido terá que contornar uma série de problemas, como a exclusão dos
debates na TV e a difícil tarefa de colar nos dois vices da chapa, o oficial,
Fernando Haddad (PT), e a reserva, Manuela D’Ávila (PC do B), o rótulo de
candidatos de Lula.
Nesta última quinta-feira, o desafio se tornou claro. A
insistência em manter Lula como o candidato fez com que o partido com o
presidenciável líder das pesquisas ficasse de fora do primeiro debate,
na TV Bandeirantes. O ex-presidente não foi autorizado a deixar a cadeia
pela Justiça. E, para tentar compensar, Haddad e Manuela D’Ávila promoveram uma
conversa paralela na internet, que nem de longe atingiu a popularidade do
encontro televisivo. No dia seguinte, na porta da carceragem de Curitiba, a
presidenta da legenda, Gleisi Hoffmann, afirmava em entrevista coletiva,
após “uma longa conversa com Lula”, que o partido tomará todas as medidas
jurídicas necessárias para que ele participe dos próximos debates. E que, se
não conseguir, haverá um esforço para que Haddad vá em seu lugar. O próximo
encontro entre presidenciáveis já acontece na próxima sexta-feira, na Rede
TV.
Esta será apenas uma das dificuldades que o partido terá
nos próximos meses. Nem mesmo a propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV,
que começa em 31 de agosto, trará novas imagens do ex-presidente. Desde que foi
preso, em abril deste ano, a Justiça negou vários pedidos do PT para que
equipes do partido –e até mesmo seu fotógrafo pessoal– pudessem captar vídeos
de Lula. Assim, apenas imagens e áudios de arquivo do ex-presidente poderão ser
utilizados. “Tem muito material que o Lula gravou antes de ser preso, já
pensando nesse cenário de golpe”, disse uma fonte da legenda ao EL PAÍS. A
ideia dos programas será colocar eminências petistas para apresentar Haddad,
com o reforço de vídeos antigos do ex-presidente elogiando seu pupilo, que
é quem deve tomar a cabeça da chapa caso a Justiça Eleitoral declare a inelegibilidade
de Lula, condenado em segunda instância e, por isso, passível de ser enquadrado
na Lei da Ficha Limpa. O material é vasto: o ex-presidente foi o principal
fiador e cabo eleitoral da campanha que levou Haddad à Prefeitura de São Paulo
em 2012.
A tônica dos programas, conforme confirmado por petistas
próximos à campanha, também será insistir na tese do golpe político-jurídico
que levou o ex-presidente à prisão e o impediu de disputar a presidência em
igualdade de condições. “O horário político será um instrumento de defesa da
candidatura do Lula. E caso ela seja barrada [pelo Tribunal Superior
Eleitoral], será uma denúncia disso. Assim vamos transformando acontecimentos
jurídicos em elementos de campanha”, afirmou uma fonte do PT.
Fonte: EL País
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