Não se pode destruir o que nunca existiu, caso da base
parlamentar do governo Bolsonaro. Mas, ainda que Michel Temer seja solto nas
próximas horas, e que a pirotecnia das prisões desta quinta tenha feito sombra
sobre as más notícias que atingiram o Planalto na semana, está claro que o
episódio deixa Jair Bolsonaro muito mais distante das condições de
governabilidade necessárias para seguir em frente. Antes de tudo, pela reação
do próprio presidente, que aproveitou o momento para achincalhar a própria
governabilidade.
Bolsonaro poderia ter saído pela tangente no episódio
Temer. Mas Bolsonaro é Bolsonaro. Num momento para lá de complicado, em que o
conjunto da obra das ações políticas do Planalto já desenhava uma situação
preocupante em relação à Previdência, ele mostrou que tudo sempre pode piorar.
Atribuiu a prisão de Temer a atitudes relacionadas aos “acordos pela
governabilidade” da velha política, disse uma obviedade (“a Justiça é para
todos”) e reafirmou sua intenção de não fazer os tais acordos pela
governabilidade.
Bolsonaro errou, porque a investigação que levou o
ex-presidente para a cadeia não parece ter uma relação tão direta com acordos
pela governabilidade, mas sim com propina e corrupção. E chutou o pau da
barraca, já meio despencada, atingindo os únicos que poderiam ajudá-lo a formar
uma base de apoio: fustigou o DEM de Rodrigo Maia – que passou recibo imediato
de sua irritação por essas e outras ofensas -, o MDB de Michel Temer e Moreira
Franco, o Centrão de tanta gente que já está presa e etc.
Juntando-se a esse pessoal o PT de Lula, o PDT de Ciro
Gomes e o PSDB de Tasso Jereissati – eles se manifestaram considerando a prisão
do adversário arbitrária – tem-se um caldo grosso de animosidade no
Legislativo. O PSL de Bolsonaro festejou a prisão de Temer, mas não gostou do
projeto da Previdência dos militares, cheio de concessões, e nem está gostando
de não ter os ministérios, cargos e vantagens que esperava.
Por Helena Chagas/ Blog do Magno
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