Depois dos estragos causados pelo ciclone tropical Idai na
região sudeste da África — ao menos 760 pessoas morreram —, autoridades se
preparam para lidar com uma epidemia “inevitável” de doenças transmitidas pela
água. Uma das enfermidades que mais preocupam os líderes governamentais de
Moçambique, país mais castigado pelo desastre natural, é a cólera, que pode
afetar centenas de milhares de sobreviventes. “É inevitável que apareçam casos
de cólera e malária”, declarou, em comunicado, o ministro do Meio Ambiente,
Celso Correia.
A Cruz Vermelha anunciou, na sexta-feira, os primeiros
casos da doença em Moçambique, mas a Organização das Nações Unidas (ONU) e o
governo local indicam que ainda não há casos registrados. “Teremos doenças
transmissíveis pela água. Mas com centros instalados, seremos capazes de
administrar a situação”, disse Sebastian Rhodes-Stampa, do Escritório das
Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).
Só Moçambique contabiliza 446 mortos, de acordo com o
balanço de ontem. O número tem aumentado dia a dia — eram 417 vítimas no sábado
— porque vão chegando às autoridades as informações de zonas que estavam
isoladas. A redução do nível da água tem ajudado as equipes de emergência a
prosseguirem com as operações de distribuição de alimentos e de reconstrução
das estradas. Mais de 100 mil pessoas estão alojadas em abrigos de emergência,
em sua maioria escolas.
Em Zimbábue, país vizinho, as inundações catastróficas e os
deslizamentos de terra deixaram 259 mortos, segundo a ONU, e quase 200
desaparecidos, incluindo 30 estudantes. “O balanço pode subir porque algumas
regiões estavam isoladas até agora e começam a ficar acessíveis”, afirmou
Sebastian Rhodes-Stampa. Zimbábue e Malawi também foram atingidos e lutam para
se recuperar da destruição causada pelo ciclone. Por enquanto, contabilizam,
259 e 56 mortos, respectivamente. Ao todo, quase 2 milhões de pessoas foram afetadas
na região.
Acesso dificultado
De acordo com a OCHA, a logística para tentar localizar os
desaparecidos continua sendo um desafio. Falta luz e estradas para chegar aos
atingidos. Por exemplo, ao menos 80% da infraestrutura elétrica de Dondo, a 30
quilômetros de Beira, em Moçambique, foi danificada. As equipes de emergência
conseguiram concluir as obras de reparo na única rodovia de acesso à cidade,
que foi parcialmente arrasada pelas águas.
Apesar das dificuldades, a população tenta retomar a vida
normal. Os sobreviventes iniciaram a reconstrução das casas com os poucos
recursos à disposição. Em visita ao país, a diretora executiva do Fundo das
Nações Unidas para a Infância (Unicef) calcula que vá precisar pelo menos de
US$ 30 milhões para prestar ajuda imediata à população. “A situação vai piorar
antes de melhorar. As agências de ajuda mal começaram a ver a escala dos
danos”, declarou. A estimativa da entidade é de que há ao menos 1 milhão de
crianças afetadas pelo ciclone no país. (Correio Braziliense)
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