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segunda-feira, 25 de março de 2019

Em Carnaíba associações se fortalecem no semiárido


As chuvas dos últimos meses têm contribuído para uma melhor vivência do homem do campo com o semiárido, mas sem elas o sertanejo ainda continua sofrendo com a estiagem. Para enfrentar as dificuldades durante o longo período de falta de chuva, o camponês tem procurado se beneficiarde tecnologias e procedimentos apropriados ao contexto ambiental e climático, construindo processos de vivência na diversidade. Neste sentido, em Carnaíba, a 394 quilômetros do Recife, as comunidades rurais têm buscado qualidade de vida e permanência na terra, desenvolvendo e se favorecendo de políticas de convivência com o semiárido. Foi o que publicou neste domingo o Diário de Pernambuco.

Na Associação dos Trabalhadores Rurais do Sítio Antonico, no distrito de Ibitiranga, a 31 quilômetros da sede, os associados vivem do plantio de milho, feijão, macaxeira e fava. O presidente da associação, José Cordeiro Ramos, 48 anos, consegue escoar a produção para a vizinha Afogados da Ingazeira, além de comercializá-la no mercado local. No ano passado, ele colheu 17 sacos de milho e nove de feijão. A expectativa de colheita este ano é maior devido às recentes chuvas. “Vamos colher mais”, diz a agricultora Maria do Socorro Silva Ramos, 44, mulher do presidente da associação. Juntos, se beneficiam também do plantio de palma e cana de açúcar, e da criação de galinhas e porcos. “O que não pode é a gente ficar em casa sem fazer nada. Na roça, a gente vê resultado”, pontua Maria do Socorro.



A Associação José Saturnino da Silva, que abrange os sítios Brejo, Barreiros, Brejinho, Quinta, Alegre e Cauíra, é uma referência na região em termos de organização e desenvolvimento de projetos de convivência com o semiárido. Um deles é uma pequena indústria de beneficiamento de polpa e de fabricação de doces de frutas típicas, como o umbu. Calcada na agricultura familiar, a produção chega ao mercado local e é direcionada também para a merenda escolar de Carnaíba. A associação mantém um grupo de mulheres, que além de tocarem a fábrica de polpa e doces, produz a biojoia, artesanato confeccionado a partir de materiais vindos da natureza.

Em parceria com organizações não-governamentais como Diaconia e Sabiá, que atuam na regiáo, a associação consegue fazer com que o artesanato produzido esteja presente em feiras e eventos realizados no estado. A associação José Saturnino da Silva, que tem sua base no Sítio Barreiros, a 37 quilômetros do centro de Carnaíba, é ainda um exemplo de empreendedorismo, através da implantação de biodigestor, tecnologia usada no tratamento de fezes do gado, que gera o biogás, usado como combustível no cozimento de alimentos, e do bioágua, reuso da água de pias e banhos para irrigacão de plantas nativas e frutíferas da região.

A associação desenvolve também projeto de barramento do solo e reflorestamento da caatinga. É ainda referência na produção e manuseio de cisternas. A entidade existe desde 2002 e é presidida pelo agricultor Reginaldo Batista da Silva, 56. Constantemente recebe grupos de camponeses de várias regiões do país e de técnicos que querem conhecer o modelo de gestão da organização. Já os agricultores integrantes da Associação do Riacho do Peixe 2 estão mais voltados ao plantio de hortaliças, como é o caso de Adiezio Nicolau da Silva, 34, que tem destaque na plantação de coentro, abastecendo o mercado local.Barragem localizada entre o Leitão e Cabelo, no leito do Rio Pajeú, em Carnaíba, minimiza a estiagem.


José Cordeiro e Maria do Socorro tiram da roça o sustento diário As 54 associações de Carnaíba, no Sertão do Pajeú, integram o Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável (Condresca), fundado em 1998. Noventa por cento estão distribuídas pela área rural, as demais estão localizadas na zona urbana. O Conselho se reúne uma vez por mês com as associações e parceiros, como a Secretaria de Agricultura de Carnaíba, Prefeitura Municipal, Câmara de Vereadores e igrejas, entre outras instituições. Por ser agente de desenvolvimento rural e líder comunitário, o secretário de Agricultura, José Ivan Pereira, 43 anos, é o presidente do Conselho.

“Nós procuramos ouvir as associações em suas reivindicações e depois buscamos parceiros que possam nos ajudar a sanar o problema apresentado por elas”, argumenta José Ivan. Em parceria com a Secretaria de Agricultura, o Condresca dá assistência ao homem do campo no período de estiagem com o fornecimento de carros-pipa e ainda desenvolve projeto de cisternas com capacidade cada uma para 12 mil litros, visando melhorar o abastecimento de água em todo o município.

O projeto objetiva também levar água encanada até as residências da área rural que enfrentam dificuldade em ter o líquido direto na torneira. O Conselho tem se mobilizado na distribuição de kits de irrigação que deverão beneficiar cerca de 50 famílias envolvidas com a agricultura familiar, como aconteceu nesta sexta-feira, e em parceria com a prefeitura mantém projeto de perfuração de poços - atualmente 19 comunidades foram atendidas.

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