Por Agência Brasil /Reprodução/TV Jornal
Para especialistas ouvidos pela Agência Brasil, as escolas
brasileiras não estão preparadas para lidar com questões de violência e
conflitos. Apesar da legislação brasileira atribuir aos centros de ensino a
responsabilidade de prevenção e combate à violência e à promoção da cultura de
paz, os professores e funcionários, de maneira geral, não são instruídos de
forma adequada para episódios de ameaça e risco.
Tragédias como a que ocorreu na Escola Estadual Raul
Brasil, em Suzano (SP), na qual morreram 10 pessoas e 11 ficaram feridas,
chamam atenção para a vulnerabilidade dos colégios para lidar com situações
como essas, tanto na hora da prevenção quanto para lidar com a comunidade
escolar após o ocorrido.
"Essas questões de convivência, de relacionamento, de
sentimentos e emoções são tratadas ainda nas escolas brasileiras de maneira
empírica”, disse a a diretora do Instituto Inspirare, Anna Penido. O Inspirare
é uma organização que defende práticas e políticas públicas inovadoras em
educação.
Em seguida, Anna Penido acrescentou que: “Cada escola, a
partir de ter mais ou menos sensibilidade para isso, de ter mais ou menos
professores preocupados com isso, de mais ou menos pessoas disponíveis para
resolver essas questões, vão se organizando para dar conta. Não tem algo
estruturado para dar conta desse trabalho".
Responsabilidade
A responsabilidade das escolas com essas questões está
prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. A Base Nacional
Comum Curricular (BNCC), que estabele o mínimo de cconteúdo a ser ministrado
aos estudantes desde o ensino infantil ao médio, prevê também o desenvolvimento
de habilidades socioemocionais. O que significa na prática que os alunos devem
aprender a lidar, entre outras coisas, com as próprias emoções. A BNCC ainda
está em fase de implementação.
"A escola é o primeiro lugar onde as crianças convivem
fora do ambiente familiar e sem a família. Tem o lado da convivência, de
respeitar o outro, de dividir, compartilhar com o outro. Isso é inato da
natureza da escola", disse Anna Penido.
A professora da faculdade de educação da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp) Telma Vinha ressaltou que colocar as medidas
previstas em lei e na BNCC em prática "implica investir em formação de
base e continuada de professores nessa área". Telma é também coordenadora
do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (Gepem), que atua junto a
escolas de Campinas.
Telma afirmou que para tratar de questões emocionais é
necessário, além do investimento na própria escola e em formação, a colaboração
entre a comunidade e também entre outras áreas, como a saúde. "Não é levar
a responsabilidade para a escola, mas ela lida com convivênvia o tempo inteiro.
Tem que oferecer um melhor olhar para isso."
O Gepem disponibilizou o Protocolo de intervenção após
casos de violência no esforço de ajudar escolas a melhorar a qualidade de
convivência.
O protocolo, segundo Telma, pode ajudar a Escola Estadual
Raul Brasil. "Esse protocolo descreve passos de ações que a escola pode
ter para incentivar os estudantes e funcionários a se abrirem para que se fale
sobre o problema e sobre os sentimentos. Tem várias dinâmicas, sugestões de
vídeo e leitura."
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