Estadão Conteúdo
Em artigo escrito para o The Washington Post e publicado
nesta sexta, 29, o escritor brasileiro Paulo Coelho descreveu a tortura que
sofreu durante a ditadura militar. Autor de O Alquimista, entre outras obras
que se tornaram best-sellers internacionais, Paulo Coelho era, à época,
compositor.
Paulo Coelho escreve que sua casa foi invadida no dia 28 de
maio de 1974 e ele foi levado ao DOPS (Departamento de Ordem Política e
Social), fichado e fotografado. Liberado pouco depois, pega um táxi, que é
fechado por outros dois carros, e ele é tirado de lá por homens armados. Apanha
no caminho, depois na sala de tortura. Quando permitem que ele tire o capuz, se
dá conta de que está numa sala a prova de som com marcas de tiro nas paredes. A
tortura segue, ele conta.
“Depois de não sei quanto tempo e quantas sessões (o tempo
no inferno não se conta em horas), batem na porta e pedem para que coloque o
capuz. (…) Sou levado para uma sala pequena, toda pintada de negro, com um
ar-condicionado fortíssimo. Apagam a luz. Só escuridão, frio, e uma sirene que
toca sem parar. Começo a enlouquecer, a ter visões de cavalos. Bato na porta da
‘geladeira’ (descobri mais tarde que esse era o nome), mas ninguém abre. Desmaio.
Acordo e desmaio várias vezes, e em uma delas penso: melhor apanhar do que
ficar aqui dentro.”
Paulo Coelho dá todos os detalhes sobre o que sofreu e
conta ainda que anos mais tarde, quando os arquivos da ditadura foram abertos,
ele teve a chance de saber quem o denunciou, mas não quis. “Não vai mudar o
passado”, escreve.
O escritor teve a iniciativa de publicar essa história
quando o presidente Jair Bolsonaro sugeriu que os quartéis celebrassem o dia 31
de março, data que marca o golpe militar de 1964, e também porque Bolsonaro
disse, no Congresso, que Carlos Alberto Brilhante, “um dos piores
torturadores”, nas palavras de Paulo Coelho, era seu ídolo.
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