AFP
Sob o lema "ditadura nunca mais", milhares de
manifestantes saíram às ruas neste domingo (31), em várias cidades brasileiras,
no 55º aniversário do golpe militar de 1964, uma data que o presidente Jair Bolsonaro
pediu para ser comemorada nos quartéis.
Manifestações foram convocadas em Brasília, e à tarde no
Rio de Janeiro e em São Paulo, em rejeição ao pedido de Bolsonaro.
Em Brasília, cerca de mil manifestantes acusaram Bolsonaro
de ser um "militante" e exigiram sua saída da presidência.
No Rio de Janeiro, cerca de 2.000 pessoas se manifestaram à
tarde na Cinelândia, no centro da cidade, enquanto em São Paulo algumas
centenas de manifestantes se reuniram no parque do Ibirapuera, em sua maioria
familiares das vítimas do regime.
Bolsonaro "está usando o cargo mais alto da República
para defender a legalidade daquele golpe e defender o período sangrento que se
seguiu. O fato de ser o presidente da República a tomar essa iniciativa causa
uma certa perplexidade no país, que começa a reagir", disse o deputado
federal Alessandro Molon (PSB) à AFP.
"Não é uma data que deve ser comemorada. É um dia de
luto, de violência, essa brutalidade", disse à AFP Maria Fátima,
professora aposentada de 65 anos, que se manifestou no Rio.
As convocações de protestos pelos sindicatos e movimentos
sociais de direitos humanos se multiplicaram esta semana nas redes sociais,
após o anúncio do porta-voz da Presidência pedindo que este aniversário fosse
"comemorado como se deve" nos quartéis.
"Não comemorar, rememorar"
Uma juíza de Brasília decidiu na sexta-feira à noite
proibir qualquer comemoração, considerando ser "incompatível com o
processo de reconstrução democrática" promovido pela Constituição de 1988,
mas outro magistrado, de um tribunal de segudna instância, anulou esta decisão
no sábado.
Antes dessas decisões judiciais, vários regimentos já
haviam assumido a postura defendida por Bolsonaro, comemorando este aniversário
na quinta e sexta-feira com a leitura de uma mensagem do ministro da Defesa,
Fernando Azevedo e Silva, para quem os militares impediram "uma escalada
em direção ao totalitarismo".
O Ministério Público Federal havia condenado uma
"iniciativa que soa como uma desculpa para a prática de atrocidades",
acrescentando que essas cerimônias são "incompatíveis com o estado
democrático de direito".
Diante da polêmica, o próprio presidente amenizou suas
declarações na quinta-feira, dizendo que não se tratava de "comemorar, mas
de rememorar" esse episódio da história brasileira.
De acordo com um relatório de 2014 da Comissão Nacional da
Verdade, 434 assassinatos foram cometidos durante os 21 anos de regime militar,
sem contar as centenas de detenções arbitrárias e casos de tortura de
opositores.
Mas, no Brasil, muitas pessoas ainda consideram que a
ditadura foi um período de prosperidade onde a ordem prevaleceu, apesar da
repressão, mesmo que o "milagre econômico" que contribuiu para o
desenvolvimento do país tenha rapidamente perdido força com o choque do
petróleo de 1973.
Além disso, ao contrário de seus vizinhos, o Brasil não
levou à Justiça os agentes do Estado acusados de cometer crimes durante a
ditadura, devido à Lei de Anistia de 1979.
Jair Bolsonaro, de 64 anos, capitão da reserva do Exército,
cujo governo inclui oito militares entre os 22 ministros, nunca escondeu sua
admiração pelos anos de chumbo.
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