Depois de quase um ano e meio no azul, o comércio varejista
voltou a mais fechar do que abrir lojas no primeiro trimestre. Entre janeiro e
março, 39 pontos de venda lacraram as portas no País. O número é pequeno, mas
emblemático, pois indica grande mudança de rota. E confirma o quadro de
estagnação da economia, já apontado por outros indicadores.
No último trimestre de 2018, o saldo entre abertura e
fechamento de lojas foi positivo em 4,8 mil unidades. O ano passado também
tinha sido o primeiro ano positivo de inaugurações depois da recessão, com 11
mil pontos de venda abertos. O saldo de lojas de 2018 é pequeno comparado às
220 mil lojas que o varejo perdeu entre 2014 e 2017. Mas era importante porque
sinalizava a recuperação do setor, agora ameaçada.
Os dados de abertura de lojas fazem parte de estudo da
Confederação Nacional do Comércio (CNC) feito com base nas informações
prestadas por empresas formais e com vínculo empregatício, reunidas no Cadastro
Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
No final do ano passado, ainda sob a influência do
prognóstico favorável para a economia neste ano, a expectativa era de que 2019
encerrasse com a abertura líquida de 22 mil lojas, diz o economista-chefe da
CNC, responsável pelo estudo, Fabio Bentes. Hoje, ele acredita que essa
projeção está prejudicada diante do pífio desempenho da atividade econômica
esperado para o ano.
“Essa previsão vai derreter como todas as previsões de
indicadores têm derretido. Seguramente não vamos ter crescimento no número de
lojas e há o risco de que o ano termine com um número negativo”, diz Bentes.
O retrocesso do varejo é visível. Quem circula pelas
principais ruas de comércio de São Paulo encontra várias lojas vagas, tanto em
shoppings como no comércio de rua. Na rua Teodoro Sampaio, no bairro de
Pinheiros, zona oeste da capital, por exemplo, há sequências de lojas fechadas
em vários trechos.
Roberto Frias, diretor-superintendente da distrital de
Pinheiros da Associação Comercial de São Paulo, diz que aumentou muito o número
de lojas vagas nos corredores comerciais da sua região, depois da pequena
recuperação que houve no ano passado. “O desempenho de 2018 foi febre em
defunto”, brinca, pondo em xeque os resultados positivos alcançados até
dezembro.
Bentes ressalta que todos os fatores condicionantes do
consumo, como emprego, renda e juros ao consumidor estão evoluindo muito mal, o
que reforça sua avaliação de que este será mais um ano perdido para a expansão
do varejo. “Os números mostram que o varejo está indo para o ralo de novo e quem
tinha planos de expansão deve estar engavetando”, diz.
O economista lembra que, no fim do ano passado, uma
pesquisa com comerciantes feita pela CNC apontava que quase metade dos
entrevistados pretendia abrir lojas ou ampliar as existentes. Hoje, esse indicador
está abaixo de 40%. (Estadão)
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