O reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE),
Anísio Brasileiro, convoca a sociedade para defender as universidades e
pressionar o governo federal a reverter o corte de verbas feitos semana
passada. A UFPE teve suspensos R$ 55,8 milhões do seu orçamento de manutenção e
investimento. Nessa entrevista, ele também fala sobre os desafios de quem o
suceder, a partir de outubro, quando acabará seu segundo mandato como reitor.
Confira:
JC - Como o senhor avaliação os cortes realizados pelo MEC
no orçamento das universidades federais, incluindo a UFPE?
ANÍSIO BRASILEIRO - Achei um absurdo. É impensável imaginar
que um país como o tamanho do Brasil, com o grau de desigualdade enorme que tem,
mas também com grande potencial e riqueza, despreze as universidades públicas.
O governo federal tem que compreender e apoiar as universidades. O corte das
verbas não é um problema só nosso, de quem está na universidade. É um problema
de todos os brasileiros. A sociedade precisa se mobilizar para nos defender.
Precisamos ter um deputado, um senador, em Brasília, dizendo que não pode haver
um corte dessa natureza. Isso inviabiliza não só a universidade. Inviabiliza um
projeto de desenvolvimento do País, inviabiliza o futuro de milhões de jovens
que desejam ingressar no mercado de trabalho. Devemos chegar junto das
federações da indústria e dizer empresários, vocês contam com o conhecimento
produzido nas universidades para se manterem competitivos. Dizer aos prefeitos,
vocês dependem das universidades para formação de seus trabalhadores.
JC - Como o senhor fará para terminar o mandato, até
outubro, com menos verbas?
ANÍSIO - Vamos lutar, de maneira intensa, para reverter
esses cortes. Somos 63 universidades federais, absolutamente coesas, temos o
parlamento e a sociedade a nosso favor. Vamos lutar para que pelo menos o
orçamento de 2019 seja correspondente ao que tínhamos em 2018, no mínimo. Na
UFPE há uma escala decrescente de recursos para investimento e manutenção. De
2013 a 2019 houve redução de 90% das verbas. Nossa grande preocupação é com a
manutenção de prédios, laboratórios e equipamentos. Hoje temos todas as contas
em dia, de energia, limpeza, segurança. Não devemos nada a ninguém, graças a
uma competente equipe de gestão, que tem administrado bem os escassos recursos.
Não sei se conseguiremos continuar assim. Também porque houve cortes no
Ministério da Ciência e Tecnologia, na Capes, no CNPQ, na Finepe, que garantiam
verbas para projetos e manutenção dos laboratórios.
JC - Que desafios terá a chapa que suceder sua gestão?
ANÍSIO - Diria que são três grandes desafios, que estão
interligados. O primeiro é continuar mostrando à sociedade nossa relevância, a
importância estratégica das universidades federais para um projeto de
desenvolvimento baseado no emprego, que reduza as desigualdades e que permita
maior inclusão social. Isso só se faz com conhecimento, com educação superior
articulada com a educação básica.
JC - Qual o segundo desafio?
ANÍSIO - Fortalecer as alianças externas. Com o Congresso
Nacional e por isso foi lançada a Frente Parlamentar em Defesa da Educação
Superior Pública. Com o Poder Judiciário, com órgãos de controle, como Tribunal
de Contas e Controladoria Geral da União. Junto a governadores e prefeitos,
como acontece hoje com as prefeituras de Caruaru e Toritama. Nossos
laboratórios de design do câmpus de Caruaru trabalham de maneira integrada com
as prefeituras e o polo têxtil. Consolidar parcerias com empresas para desenvolvimento
de temas estratégicos, envolvendo pesquisa e inovação, como acontece hoje com
Petrobrás, Chesf e multinacionais como Motorola e Microsoft.
JC - E o terceiro desafio?
ANÍSIO - O terceiro desafio será manter a coesão interna, o
que significa fortalecer o projeto coletivo de universidade, envolvendo
estudantes, professores e servidores técnicos, para manter o padrão de
excelência internacional da UFPE. Isso precisa ser preservado. Entre as
habilidades que deve ter o novo reitor, diria a capacidade de diálogo para
lidar com os conflitos, experiência em gestão, porque não dá para improvisar, e
visão estratégica. O trabalho em equipe também será essencial.
Por Margarida Azevedo/JC Online
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