Estadão Conteúdo
Os anos de crise, além de terem destruído empregos e levado
ao aumento da informalidade, também corroeram o rendimento dos trabalhadores da
maioria dos segmentos. A depender da área de atuação, a perda real (já
considerada a inflação) superou os 16% nos últimos cinco anos. De nove setores
da iniciativa privada analisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), cinco tiveram quedas significativas na renda que o
trabalhador recebe habitualmente por mês.
Entre o primeiro trimestre de 2014, antes da recessão, e os
três primeiros meses deste ano, os trabalhadores de alojamento e alimentação
(de hotéis, pousadas, restaurantes ou vendedores de alimentos), da construção e
do transporte foram os que tiveram as maiores perdas reais de rendimento, de
7,2% a 16,3%, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(Pnad) - Contínua, do IBGE, selecionados para o jornal O Estado de S. Paulo pela
consultoria LCA.
Entre os trabalhadores da iniciativa privada, apenas os da
agricultura tiveram aumento real expressivo do rendimento habitual, de 5,2%
durante esse mesmo período. No grupo que inclui quem trabalha no setor público,
houve um aumento real ainda maior, de 7,5%.
A queda na renda das famílias e o aumento da informalidade
- sobretudo em atividades ligadas aos serviços, como o transporte com
aplicativos e a venda de alimentos - e o afundamento do setor de construção
civil ajudam a explicar o menor rendimento que esses trabalhadores têm
recebido, avalia o economista Cosmo Donato, da LCA.
Por um lado, as famílias têm menos condição de gastar com
alimentação fora de casa, transporte e lazer hoje do que gastavam em 2014, diz
Donato. "Por outro lado, desempregados da indústria e do comércio
recorreram ao transporte e à alimentação para sobreviver, vendendo comida na
rua ou se tornando motoristas de aplicativos, por exemplo. A informalidade
puxou o rendimento para baixo."
O motorista particular e taxista Wallinson de Melo, de 34
anos, é um dos trabalhadores que sentiram o impacto do aumento da informalidade
em seu segmento. "Até 2014, a gente conseguia tirar facilmente até R$ 12
mil por mês. Foi quando realizei o sonho de comprar uma casa para a minha mãe,
na Paraíba. Hoje, com sorte, ganho R$ 6 mil. Com o desemprego, as pessoas
trocaram o táxi pelo ônibus e a concorrência aumentou, muito engenheiro virou
Uber. Aquele tempo não volta."
Desequilíbrio
Muitos que perderam o emprego caíram na informalidade ou
conseguiram novas vagas com remuneração mais baixa; quem se manteve empregado,
não conseguiu ser promovido, avalia o economista da Universidade de Brasília
(UnB) José Luís Oreiro. "O garçom de um restaurante com menos dinheiro no
bolso gasta menos no mercadinho. O dono do mercadinho deixa de ir no
restaurante. A queda no rendimento habitual gera um efeito negativo, em
cascata, na economia."
"A crise ainda se reflete na renda dos trabalhadores.
O empresário que tinha planos de expandir, desistiu. Muitos hotéis passaram a
desativar momentaneamente alguns andares, em períodos de movimento mais
fraco", acrescenta Darly Abreu, diretor do Sinthoresp (sindicato que
reúne, entre outros, trabalhadores de hotéis, restaurantes, lanchonetes e
bares).
Ele lembra que, além da renda habitual, quem trabalha em
restaurantes ganha menos gorjetas do que antes da crise. As informações são do
jornal O Estado de S. Paulo.
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