O site “The Intercept” publicou uma série de reportagens
neste domingo que mostram que o ex-juiz federal e hoje ministro da Justiça e
Segurança Pública, Sergio Moro, trocou mensagens com o procurador da República
Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato, dando orientações sobre as
investigações da força-tarefa em Curitiba.
De acordo com o “The Intercept”, Moro deu conselhos,
antecipou decisões e cobrou ações da força-tarefa. As reportagens mostram que
Dallagnol tinha dúvidas pessoais quanto ao conteúdo da denúncia contra o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso triplex. Também acusam uma
suposta atuação irregular entre Moro e Deltan.
Segundo o “Intercept”, Moro orientou ações e cobrou novas
operações dos procuradores. Em um dos diálogos, Moro pergunta a Dallagnol,
segundo o site: “Não é muito tempo sem operação?”. O chefe da força-tarefa
concorda: “É, sim”.
Numa outra conversa, o site diz que é Dallagnol que pede a
Moro para decidir rapidamente sobre um pedido de prisão: “Seria possível
apreciar hoje?”, e Moro responde: “Não creio que conseguiria ver hoje. Mas
pensem bem se é uma boa ideia”.
Em outro trecho de conversa, pelo Telegram, segundo o
“Intercept”, Moro passou para Dallagnol pistas de suposta transferência de
propriedade para um dos filhos de Lula.
“Aparentemente a pessoa estaria disposta a prestar a
informação”, diz Moro.
“Obrigado. Faremos contato”, responde o procurador.
Mas a pessoa não quis falar com os procuradores, o que
levou Dallagnol a dizer para Moro que argumentaria ter recebido notícia
apócrifa, para intimá-lo a depor.
“Melhor formalizar então”, aconselha Moro.
Em nota, o ministro Sergio Moro diz que “Sobre supostas
mensagens que me envolveriam publicadas pelo site Intercept neste domingo, 9 de
junho, lamenta-se a falta de indicação de fonte de pessoa responsável pela
invasão criminosa de celulares de procuradores. Assim como a postura do site
que não entrou em contato antes da publicação, contrariando regra básica do
jornalismo. Quanto ao conteúdo das mensagens que me citam, não se vislumbra
qualquer anormalidade ou direcionamento da atuação enquanto magistrado, apesar
de terem sido retiradas de contexto e do sensacionalismo das matérias, que
ignoram o gigantesco esquema de corrupção revelado pela Operação Lava Jato.”
Em nota, força-tarefa do Ministério Público Federal no
Paraná diz que divulgação de conversas de seu coordenador Deltan Dallagnol com
o ex-juiz Sérgio Moro são fruto de ação deu um hacker ‘que praticou os mais
graves ataques à atividade do Ministério Público, à vida privada e à segurança
de seus integrantes’.
“Dentre as informações ilegalmente copiadas, possivelmente
estão documentos e dados sobre estratégias e investigações em andamento e sobre
rotinas pessoais e de segurança dos integrantes da força-tarefa e de suas
famílias. Há a tranquilidade de que os dados eventualmente obtidos refletem uma
atividade desenvolvida com pleno respeito à legalidade e de forma técnica e
imparcial, em mais de cinco anos de Operação”, afirmam.
Os procuradores afirmam ter “três preocupações”.
“Primeiro, os avanços contra a corrupção promovidos pela
Lava Jato foram seguidos, em diversas oportunidades, por fortes reações de
pessoas que defendiam os interesses de corruptos, não raro de modo oculto e
dissimulado.”
“A violação criminosa das comunicações de autoridades
constituídas é uma grave e ilícita afronta ao Estado e se coaduna com o
objetivo de obstar a continuidade da Operação, expondo a vida dos seus membros
e famílias a riscos pessoais. Ninguém deve ter sua intimidade – seja física,
seja moral – devassada ou divulgada contra a sua vontade. Além disso, na medida
em que expõe rotinas e detalhes da vida pessoal, a ação ilegal cria enormes
riscos à intimidade e à segurança dos integrantes da força-tarefa, de seus
familiares e amigos”, afirmam.
Os procuradores afirmam que “é importante dar continuidade
ao trabalho”. “Apenas neste ano, dezenas de pessoas foram acusadas por
corrupção e mais de 750 milhões de reais foram recuperados para os cofres
públicos. Apenas dois dos acordos em negociação poderão resultar para a
sociedade brasileira na recuperação de mais de R$ 1 bilhão em meados deste ano.
No total, em Curitiba, mais de 400 pessoas já foram acusadas e 13 bilhões de
reais vêm sendo recuperados, representando um avanço contra a criminalidade sem
precedentes. Além disso, a força-tarefa garantiu que ficassem no Brasil cerca
de 2,5 bilhões de reais que seriam destinados aos Estados Unidos.”
“Em face da agressão cibernética, foram adotadas medidas
para aprimorar a segurança das comunicações dos integrantes do Ministério
Público Federal, assim como para responsabilizar os envolvidos no ataque
hacker, que não se confunde com a atuação da imprensa. Desde o primeiro momento
em que percebidas as tentativas de ataques, a força-tarefa comunicou a
Procuradoria-Geral da República para que medidas de segurança pudessem ser
adotadas em relação a todos os membros do MPF. Na mesma direção, um grupo de
trabalho envolvendo diversos procuradores da República foi constituído para, em
auxílio à Secretaria de Tecnologia da Informação e Comunicação da PGR,
aprofundar as investigações e buscar as melhores medidas de prevenção a novas
investidas criminosas”, dizem.
“Em conclusão, os membros do Ministério Público Federal que
integram a força-tarefa da operação Lava Jato renovam publicamente o
compromisso de avançar o trabalho técnico, imparcial e apartidário e informam
que estão sendo adotadas medidas para esclarecer a sociedade sobre eventuais
dúvidas sobre as mensagens trocadas, para a apuração rigorosa dos crimes sob o
necessário sigilo e para minorar os riscos à segurança dos procuradores atacados
e de suas famílias”, concluem.
O The Intercept Brasil pertence ao jornalista
norte-americano Glenn Greenwald, que assina a reportagem. Ele ficou conhecido
mundialmente após ajudar o ex-analista de sistemas Edward Snowden a revelar
informações secretas obtidas pela Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla
em inglês) dos Estados Unidos.
Com informações dos jornais Estado de S. Paulo e Folha de
S. Paulo e o site G1.
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