Cinthya Leite/JC Online
O primeiro surto de doença de Chagas de Pernambuco e
possivelmente o maior do Brasil, anunciado por autoridades de saúde na última
sexta-feira (31), traz luz ao mapa do Trypanosoma cruzi (parasita encontrado em
fezes de insetos) no Estado. São 22 municípios considerados prioritários para a
doença e acompanhados pelo Programa de Enfrentamento as Doenças Negligenciadas,
o Sanar. Além disso, 40 cidades (29 no Sertão e 11 no Agreste) aparecem com
triatomíneos infectados, que atuam como vetores na transmissão e são chamados
popularmente de barbeiro. Nessa lista, está Ibimirim, no Sertão de Pernambuco,
epicentro do surto que envolve pelo menos 77 pessoas. Das 25 pessoas com
diagnóstico confirmado, seis permanecem internadas no Hospital Universitário
Oswaldo Cruz (Huoc), em Santo Amaro, área central do Recife.
Não é de agora que Ibimirim desperta a atenção da
vigilância epidemiológica. Dados reunidos com base no Sistema de Informação de
Agravos de Notificação, do Ministério da Saúde, revelam que o município
desponta entre os cinco de Pernambuco (ao lado de Pombos, Riacho das Almas,
Salgueiro e Vertentes) que tiveram casos agudos de Chagas em 2010 e 2011. A
partir do ano seguinte, o Estado ficou sem registro de doença aguda pelo
Trypanosoma cruzi, que voltou à cena nas últimas semanas em Ibimirim. “Se houve
contaminação, tem barbeiro. O trabalho agora também é buscar onde está o foco”,
diz a médica hematologista Cristina Carrazzone, que tem acompanhado os 77
pacientes expostos ao surto: 69 adultos e adolescentes, além de oito crianças
(uma delas está entre os casos confirmados).
Nesta segunda-feira (03) ela e demais profissionais
avaliaram, na Casa de Chagas, em Santo Amaro, a condição de saúde de dez
pessoas que não têm manifestado sintomas, mas que precisam de assistência
porque a fase inicial do problema geralmente não dá sinais. “Os surtos agudos
passam despercebidos pela semelhança de quadros clínicos com outras doenças.
Identificar essa etapa é importante para tentar detectar a causa do surto e
bloquear o risco de outras pessoas se contaminarem da mesma forma”, explica
Cristina.
Novo balanço
Em Ibimirim, essa investigação está em andamento pela
Secretaria Estadual de Saúde, que divulgará nesta terça-feira (04) novo balanço
da microepidemia, com base no trabalho de campo realizado em áreas próximas à
escola onde ficaram os participantes de evento religioso que aconteceu na
Semana Santa.
O infectologista Filipe Prohaska, do Huoc, informa que os
pacientes internados têm apresentado melhora do quadro clínico. “Dos oito que
precisaram ficar no hospital, dois tiveram alta. Eles têm sinais da doença em
atividade, mas esperamos uma boa evolução.” Por terem sido diagnosticadas na
fase aguda, as pessoas contaminados apresentam mais chances de ter a doença
controlada, em comparação com aquelas que tiveram a enfermidade detectada anos
após a infecção. “O tratamento tem como objetivo fazer com que a doença não
evolua para a cardiopatia crônica ou eventualmente para uma alteração
digestiva”, diz o cardiologista Wilson Oliveira, coordenador da Casa de Chagas.
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