A crise econômica e o desemprego aprofundados no governo de
Jair Bolsonaro (PSL) fez o País dar uma marcha à ré na história para ao menos
14 milhões de lares, que voltaram a usar a lenha e fogões rudimentares no
cozimento de seus alimentos. A pesquisa é da professora Adriana Gioda, do
Departamento de Química do Centro Técnico Científico da Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (CTC/PUC–Rio).
No dia 7 de maio deste ano, o Blog do Esmael discutiu o
tema em virtude do preço proibitivo do botijão de gás, então
R$ 105, e retornou ao tema no dia
22 do mesmo mês em virtude da disparada dos combustíveis no governo de
Jair Bolsonaro (PSL).
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) divulgados em maio deste ano mostraram que 14 milhões de brasileiros
usavam lenha ou carvão para cozinhar alimentos em 2018, aumento de 3 milhões de
pessoas em comparação a 2016. “Aumentou muito nos últimos dois anos”, comenta a
professora na Agência
Brasil.
Segundo Adriana Gioda, a expansão do uso da lenha no
preparo de alimentos no Brasil está relacionada ao aumento do preço do botijão
de gás liquefeito de petróleo (GLP). “Isso é muito visto, principalmente nas
regiões mais pobres. No Nordeste, o aumento do uso de lenha é muito maior do
que nas outras regiões”, diz. Conforme a Agência Nacional do Petróleo, Gás
Natural e Biocombustiveis (ANP), a queda de 1% no consumo de GLP, de 2017 para
2018, significou 13,2 bilhões de litros consumidos a menos em todo o Brasil.
Em dezembro de 2017, quando o preço do GLP na refinaria
chegava ao maior valor até o momento (R$ 24,38), a alta em relação a julho de
2017 atingia 37%. Em maio de 2018, mesmo com queda no preço das refinarias, o
aumento acumulado desde julho de 2017 alcançava 24%, de acordo com informações
do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
O desemprego também contribuiu para o aumento da lenha nas
casas brasileiras. Com ele, segundo Adriana, vem um problema adicional, que é o
uso de lenha catada, não comercial, em fogões rústicos, com queima ineficiente.
“As pessoas acabam consumindo mais lenha e sendo expostas a uma quantidade
grande de partículas, o que agrava os problemas de saúde”, explica.
Além da poluição do ar, tanto no ambiente interno como
externo, as pessoas acabam tendo doenças variadas. O primeiro efeito são os
problemas respiratórios, como asma, bronquite, em função das partículas. “No
longo prazo, isso acaba indo para a corrente sanguínea, entrando no cérebro e
afetando vários órgãos do corpo”, adverte.
Adriana Gioda destaca que nas regiões Sul e Sudeste, também
se usa lenha, mas de boa qualidade. “Rio Grande do Sul e Minas Gerais, por
exemplo, fazem uso da lenha, mas têm fogões, lareiras e churrasqueiras de boa
qualidade. Sem contar que a lenha é comercializada nessas regiões. Você compra
lenha, não pega lenha de floresta”, comenta.
A pesquisa da professora Adriana Gioda foi publicada na
revista científica Biomass and Bioenergy, usando dados disponíveis de 2016 do
IBGE e da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de
Minas e Energia.
Poluição
A pesquisadora observa que quando houve distribuição no país do Vale Gás, ocorreu diminuição do uso de lenha. “Só que, agora, o Vale Gás foi incorporado ao Bolsa Família, mas o programa não obriga as pessoas a comprarem gás. Elas acabam abrindo mão de comprar gás e optando pelo que necessitam mais”. O Vale Gás foi um programa de distribuição de renda implementado pelo governo federal brasileiro em 2001 para atender os beneficiários da Rede de Proteção Social, juntamente com o Bolsa Escola e o Bolsa Alimentação.
Pesquisas internacionais têm mostrado o alto grau de
poluição causado pela queima de lenha e carvão na cozinhar e como isso é
prejudicial à saúde no ambiente doméstico. Em determinados casos, a poluição
doméstica ultrapassa limites de segurança e as emissões de combustão, que
mistura monóxido de carbono, metano e partículas variadas, como a fuligem,
contribuem diretamente para o aumento de doenças e da mortalidade.
Em termos globais, Adriana informou que quase 3 bilhões de
pessoas usam lenha como principal combustível, o que equivale a 40% da
população mundial. Na África e na Ásia, chega a 95% a parcela da população que
cozinha com lenha, em fogões que não são adequados. “Muita gente morre em
decorrência dos efeitos da exposição”, ressalta.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), são
registradas mais de 4,3 milhões de mortes no mundo, das quais cerca de 70 mil
na América Latina e Caribe, provocadas pela poluição do ar no ambiente
doméstico, gerada pela utilização da lenha e carvão. A maioria das mortes é
prematura e afeta principalmente mulheres e crianças.
Estimativa
Com sua equipe de pesquisa, Adriana Gioda procura dimensionar o custo do uso crescente da lenha pelas famílias, que pressiona o Sistema Único de Saúde (SUS). Em parceria com a organização não governamental (ONG) Instituto Perene, a professora está iniciando estudo sobre a utilização de lenha na Bahia, um dos estados que mais consomem esse tipo de produto para cozinhar alimentos, sobretudo na área do Recôncavo Baiano.
Com os resultados apurados, ela pretende fazer projeções do
uso da lenha em nível nacional. Conforme a professora, muitos países têm a
comprovação de que é mais barato usar outro tipo de combustível. “A gente
pretende fazer estimativas do quanto se usa de lenha, como isso está afetando a
saúde, um estudo bem grande nessa região mais exposta, para ter um
projeto-piloto e transformar isso em termos de Brasil”, diz. A primeira parte
da pesquisa deverá ficar pronta em três ou quatro anos.
Com informações da Agência Brasil
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