Não restam mais dúvidas de que a infecção pelo zika na
gestação pode levar ao comprometimento do desenvolvimento do sistema nervoso
central do bebê e, dessa maneira, causar complicações associadas à síndrome
congênita do zika, cuja malformação mais conhecida é a microcefalia. Agora os
pesquisadores já sabem também como essas alterações são processadas. Um estudo
inédito desenvolvido na Fiocruz Pernambuco revela que não é apenas o vírus em
si que leva a malformações. A resposta imunológica descontrolada, provocada
pelo zika no organismo, é que pode causar danos ao sistema nervoso central.
Especificamente em relação aos casos de microcefalia, documentados
primeiramente no Nordeste brasileiro, os pesquisadores perceberam que a cepa do
vírus que infectou as gestantes em Pernambuco, na epidemia dos anos de 2015 e
2016, desencadeia um perfil inflamatório bastante específico, persistente e
crônico. Para o estudo, duas cepas do zika foram utilizadas: uma originada no
Camboja (país do sudeste asiático) em 2010; outra no Brasil, exatamente em
Pernambuco e que foi isolada na unidade da Fiocruz no Estado.
“A nossa cepa favorece a permanência aumentada do vírus no
sistema nervoso central. Percebemos que ela leva a uma inflamação mais
prolongada e crônica. E quanto mais tempo o vírus passa no organismo, mais a
criança sofre (com as complicações). Mesmo passados meses do nascimento,
observa-se o cérebro inflamado, com permanência de doenças neurológicas”,
explica o coordenador do trabalho, o pesquisador da Fiocruz Pernambuco Rafael
França.
“A comparação entre os processos inflamatórios causados
pelas duas cepas permitiu observar que a intensidade da resposta à cepa
ancestral (Camboja) é muito mais exacerbada e curta, em relação ao tempo.
Provavelmente o sistema imune consegue eliminar o vírus de forma rápida, o que
não causa o prolongamento no processo inflamatório, que possivelmente causa a
microcefalia”, destaca o pesquisador Antonio Rezende, que também desenvolveu o
estudo. (Casa Saudável)
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