Um grupo de médicos de Fortaleza, no Ceará, gravou um
vídeo dizendo que Jair Bolsonaro tem a "boca suja" que cospe
palavrões e pedindo: "Por que não te calas, estúpido?".
O protesto é uma reação à fala do presidente, que pediu, numa live divulgada
nesta semana, que pessoas invadissem hospitais para ver ser realmente os leitos
estavam ocupados.
"Tem um hospital de campanha perto de você, tem um hospital público,
arranja uma maneira de entrar e filmar. Muita gente tá fazendo isso, mas mais
gente tem que fazer, para mostrar se os leitos estão ocupados ou não, se os
gastos são compatíveis ou não", disse Bolsonaro.
"Respondo-te com teu linguajar chulo e autoritário, que não é o meu. Assim
tu compreenderás, com teus simplórios atributos intelectuais, o que quero
dizer. Exigimos respeito, como médicos e profissionais de saúde. Não mentimos
ou desprezamos fatos, nem temos tua boca suja a cuspir palavrões, insanidades e
acusações levianas", diz o texto do gastroenterologista Sergio Pessoa, do
Hospital Geral de Fortaleza. Ele foi lido por vários profissionais, como num
jogral.
"Tu és ingrato. Nenhuma palavra de agradecimento ou
apoio aos que labutam bravamente contra essa doença. Tu és covarde. Escuda-se
atrás de militares de alta patente para esconder tua inépcia e incapacidade
gerencial. Teu passado é sombrio, tenente cínico", diz ainda o texto.
O gastroenterologista diz que resolveu escrever o texto porque ficou
"revoltado" com a fala do presidente."Trabalhamos no Hospital
Geral de Fortaleza, o maior hospital público do estado, que é um dos centros de
atendimento à Covid-19. Nós todos estamos envolvidos no acompanhamento desses
pacientes desde o inicio da pandemia. Passamos por períodos terríveis, aqui e
no hospital de campanha", diz ele.
"Não há mais especialistas, todos passamos a cuidar do pacientes.
Gastroenterologistas, urologistas, cardiologistas: todos entraram em um esforço
de guerra", afirma ele. "Daí nossa revolta com esses questionamento
diário do presidente sobre os números [de casos e mortes pelo
coronavírus]", segue ele.
"Depois que tomei conhecimento de que o presidente estava solicitando que
invadissem hospitais públicos e filmassem nosso trabalho, como se precisássemos
provar que estamos trabalhando, fui tomado por uma indignação profunda",
afirma o médico, explicando como decidiu fazer o vídeo com os colegas.
"Não tenho filiação partidária. O texto expressa o que um médico de
Fortaleza sente quando colocam em dúvida a realidade que vivemos todos os
dias", finaliza. (Folha de Pernambuco)
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