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domingo, 14 de junho de 2020

Médicos do Ceará dizem que Bolsonaro tem 'a boca suja' e deve se calar

Um grupo de médicos de Fortaleza, no Ceará, gravou um vídeo dizendo que Jair Bolsonaro tem a "boca suja" que cospe palavrões e pedindo: "Por que não te calas, estúpido?".

O protesto é uma reação à fala do presidente, que pediu, numa live divulgada nesta semana, que pessoas invadissem hospitais para ver ser realmente os leitos estavam ocupados.

"Tem um hospital de campanha perto de você, tem um hospital público, arranja uma maneira de entrar e filmar. Muita gente tá fazendo isso, mas mais gente tem que fazer, para mostrar se os leitos estão ocupados ou não, se os gastos são compatíveis ou não", disse Bolsonaro.

"Respondo-te com teu linguajar chulo e autoritário, que não é o meu. Assim tu compreenderás, com teus simplórios atributos intelectuais, o que quero dizer. Exigimos respeito, como médicos e profissionais de saúde. Não mentimos ou desprezamos fatos, nem temos tua boca suja a cuspir palavrões, insanidades e acusações levianas", diz o texto do gastroenterologista Sergio Pessoa, do Hospital Geral de Fortaleza. Ele foi lido por vários profissionais, como num jogral.

"Tu és ingrato. Nenhuma palavra de agradecimento ou apoio aos que labutam bravamente contra essa doença. Tu és covarde. Escuda-se atrás de militares de alta patente para esconder tua inépcia e incapacidade gerencial. Teu passado é sombrio, tenente cínico", diz ainda o texto.

O gastroenterologista diz que resolveu escrever o texto porque ficou "revoltado" com a fala do presidente."Trabalhamos no Hospital Geral de Fortaleza, o maior hospital público do estado, que é um dos centros de atendimento à Covid-19. Nós todos estamos envolvidos no acompanhamento desses pacientes desde o inicio da pandemia. Passamos por períodos terríveis, aqui e no hospital de campanha", diz ele.

"Não há mais especialistas, todos passamos a cuidar do pacientes. Gastroenterologistas, urologistas, cardiologistas: todos entraram em um esforço de guerra", afirma ele. "Daí nossa revolta com esses questionamento diário do presidente sobre os números [de casos e mortes pelo coronavírus]", segue ele.

"Depois que tomei conhecimento de que o presidente estava solicitando que invadissem hospitais públicos e filmassem nosso trabalho, como se precisássemos provar que estamos trabalhando, fui tomado por uma indignação profunda", afirma o médico, explicando como decidiu fazer o vídeo com os colegas.

"Não tenho filiação partidária. O texto expressa o que um médico de Fortaleza sente quando colocam em dúvida a realidade que vivemos todos os dias", finaliza. (Folha de Pernambuco)

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