Por Josias de Souza
Ao
longo do primeiro mandato, Dilma Rousseff consolidou-se como uma caricatura da
gerente eficiente que Lula disse que ela seria. Neste início do segundo
quadriênio, a ex-gerente tornou-se uma alegoria de si mesma. Ela representa
simbolicamente o oposto do que gostaria de ser. Do ponto de vista econômico, a
gestão atual é a volta à ortodoxia. E do ponto de vista político, é o igual
tentando se disfarçar de novo.
Tanta ambiguidade
resultou num governo sem imagem, incapaz de transmitir uma simbologia ou
qualquer coisa que se pareça com uma marca. Dilma não consegue manejar um
conjunto de signos que, associados a impulsos externos, produzam uma nova forma
de otimismo. Em vez disso, ela cultiva a grandeza da vista curta. Sem agenda
para o futuro próximo, administra a República como quem toca uma casa na qual
sobra mês no fim do orçamento.
Hoje, a estratégia de
Dilma é a seguinte: engolir todos os sapos que conseguir até que o purgante
receitado pelo ministro Joaquim Levy (Fazenda) surta os seus efeitos. Liberadas
as toxinas da economia, o governo poderia —talvez, quem sabe, com alguma sorte—
se beneficiar de uma retomada do crescimento na reta final, alí por fins de 2017,
início de 2018.
A imagem do governo
—ou a falta dela— é um problema que tente a se agravar. Tudo conspira para que
o ruim fique pior. O governo começou por baixo. Normalmente, os presidentes
abrem seus mandatos botando banca. Vão deslizando para a vala comum do
fisiologismo aos pouquinhos. Com Dilma 2.0, não é o governo que tem uma base de
apoio no Congresso. É a base de apoio que tem o governo. E cuida de enfiar nele
alguns dos seus políticos mais viscosos.
De resto, além de
cortes, as mãos de tesoura de Levy fabricam impopularidade. Que tende a se
potencializar à medida que o procurador-geral Rodrigo Janot for enviando ao STF
as denúncias e os pedidos de abertura de inquérito contra o pedaço do
conglomerado governista que, estalando de pureza moral, invadiu os cofres da
Petrobras. Logo, logo os índices do Datafolha parecerão chibatas para Dilma.
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