Agência Brasil
Levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM) aponta
que pelo menos 904 mil cirurgias eletivas estão pendentes no Sistema Único de
Saúde (SUS) em diferentes estados e municípios do país. As cirurgias eletivas
não são de urgência ou emergência. O estudo, feito pela primeira vez pelo
conselho, divulgado nesta segunda-feira (4) mostra que do total pelo menos 746
procedimentos cirúrgicos estão na fila de espera há mais de dez anos e 83% dos
pedidos entraram na fila a partir de 2016. O Ministério da Saúde informou que
desde maio passou a adotar o sistema de fila única para organizar a demanda.
A pesquisa traz dados enviados pelas secretarias de saúde
de 16 estados e dez capitais até junho deste ano. Outros sete estados e oito
capitais não enviaram informações, alegando não tê-las disponíveis ou por
negativa de acesso aos dados. Por ser o primeiro levantamento desse tipo, não
há dados dos anos anteriores. A pesquisa contabiliza o número de procedimentos
agendados, e não o número de pacientes na fila.
Catarata
Na lista de espera, a maioria dos pedidos de cirurgias é
de catarata, hérnia, vesícula, amígdalas e adenoide, além de cirurgias
ortopédicas. Os estados de Minas Gerais, São Paulo, Goiás e Ceará apresentaram
o maior número de cirurgias pendentes. Entre as capitais e estados que
disponibilizaram informações de perfil dos usuários, as mulheres representam
67% dos pacientes que aguardam algum tipo de procedimento especializado.
Angelita Máximo dos Santos, 53 anos, de Maceió, espera
desde junho por um procedimento no olho. Depois de fazer pela rede pública uma
cirurgia de catarata, ela teve piora no quadro de sua visão e foi encaminhada
pelo médico para realizar um procedimento de lavagem da lente colocada na
primeira cirurgia.
Com dificuldades para enxergar, Angelita teve que deixar
o trabalho de doméstica e cuidadora de idosos, o que acabou reduzindo a renda
mensal familiar. “Ele [o médico] disse que não podia passar os óculos, porque
eu não estava vendo nada, então eu tinha que esperar a lavagem da lente e nunca
ninguém ligou. Aí eu estou esperando”, relatou Angelita.
Médicos alertam que a demora na realização de determinado
procedimento é decisiva no sucesso de um tratamento. O representante do
Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), Cristiano Caixeta, explica que a
demanda por procedimentos nos olhos tem crescido devido ao envelhecimento da
população, entre outros fatores. E a demora para atender todas as solicitações
está relacionada à falta de profissionais especializados.
Já Mauro Ribeiro, presidente em exercício do CFM, defende
políticas integradas entre os entes federados. “O número de pacientes que
precisam dos procedimentos e não tem acesso ao Sistema Único de Saúde é imenso.
Tanto os dados do Ministério [da Saúde], quanto os dados do Conselho Federal de
Saúde são subestimados, muito aquém da realidade. [….] É necessário que o
governo federal estabeleça políticas públicas com os estados e municípios para
poder organizar o sistema e dar acesso a esses pacientes ao sistema de saúde”,
disse.
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