O enfrentamento à cegueira pode ganhar uma ferramenta
inovadora. Pesquisadores americanos desenvolveram uma retina ultrafina que tem
uma matriz de sensores capaz de reproduzir todo o ciclo de geração de imagens.
O dispositivo, composto por produtos como grafeno e finas camadas de ouro, foi
testado em animais, com resultados promissores. Ele ainda é flexível e
biocompatível, o que, segundo os criadores, aumenta as expectativas de que
resultados semelhantes sejam alcançados em humanos. Detalhes do protótipo usado
no experimento e das próximas etapas do trabalho foram apresentados no 256º
Encontro Nacional e Exposição da Sociedade Americana de Química, realizado
neste mês, em Boston, nos Estados Unidos. Foi o que informou o Correio Braziliense.
Doenças como degeneração macular, retinopatia diabética e
retinite pigmentosa podem danificar ou destruir o tecido da retina, levando à
perda total ou parcial da visão. Implantes de retina feitos com silicone ajudam
a restaurar uma quantidade mínima de visão para alguns indivíduos com essas
complicações. No entanto, esses dispositivos são rígidos, planos e frágeis, o
que dificulta a replicação da curvatura natural da retina.
Segundo especialistas, essas limitações fazem com que os
implantes de retina feitos de silicone produzam, na maioria das vezes, imagens
borradas ou distorcidas. Há ainda o risco de o dispositivo danificar o tecido
ocular circundante, incluindo o nervo óptico. A retina criada pelos americanos
pode resolver esses problemas. Ela é composta por materiais 2D, incluindo
grafeno e dissulfeto de molibdênio, finas camadas de ouro, alumina e nitrato de
silício, todos usados com o objetivo de criar uma matriz de sensores flexível,
de alta densidade e curvatura. O dispositivo assemelha-se à superfície de uma
bola de futebol achatada, com tamanho e forma que imitam as medidas de uma
retina natural.
Nos testes com animais, os fotorreceptores, que imitam os
bastonetes e os cones da retina, absorveram prontamente a luz e a passaram
através de uma placa de circuito externo extremamente macia, simulando o
transporte dos impulsos nervosos pelo nervo óptico até o cérebro. “A placa de
circuito abriga toda a eletrônica necessária para processar digitalmente a luz,
estimular a retina e adquirir sinais do córtex visual”, explica, em comunicado,
Nanshu Lu, uma das autoras do estudo e pesquisadora da Universidade do Texas.
Com base nos resultados, os cientistas acreditam que o protótipo
de retina artificial imita com sucesso as características estruturais do olho
humano e poderá ser usado como base na próxima geração de próteses de retina
bioeletrônicas. “Esta é a primeira demonstração de que é possível usar grafeno
e dissulfeto de molibdênio em poucas camadas para fabricar com sucesso uma
retina artificial”, frisa Lu. “Embora essa pesquisa ainda esteja engatinhando,
é um ponto de partida muito estimulante para o uso desses materiais para
restaurar a visão.”
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