A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) e a agência da Organização das Nações Unidas para Agricultura
e Alimentação (FAO) divulgaram relatório que aponta ‘epidemia de obesidade’ na
América Latina e no Caribe. O relatório aponta o “triplo ônus da má nutrição”,
formado pela subalimentação, obesidade e falta de macronutrientes.
“Cada uma destas questões, cada um destes problemas, a
obesidade, desnutrição e carência de nutrientes, são em si já problemas de
saúde pública. A presença dos três ao mesmo tempo ems uma realidade coloca um
desafio muito grande em termos de desenho de políticas públicas, de como você
responde a esses problemas”, explica Inês Rugani, pesquisadora da Associação
Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).
Em entrevista ao Repórter SUS, programa produzido em
parceria com a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio da Fundação Oswaldo
Cruz (EPSJV/Fiocruz), Rugani fala da importância dos investimentos num conjunto
de ações estruturantes para reduzir a desnutrição.
No caso da obesidade, as políticas públicas exigidas são de
outro tipo. “A gente precisa conseguir regular a publicidade de alimentos,
aquela que é dirigida ao público infantil. Melhorar a rotulagem dos alimentos,
para que as pessoas possam entender melhor o que estão comprando, escolher com
mais informação e decidir o que vão comprar”.
Ela também defende a tributação de produtos não saudáveis,
como refrigerantes, para melhorar a saúde pública. Da mesma forma que a
melhoria dos ambientes escolar e de trabalho, que muitas vezes acabam por não
favorecer bons hábitos.
Com relação à carência nutricional de alimentos, a
Organização Mundial de Saúde recomenda, segundo a pesquisadora, a combinação de
acréscimo de nutrientes “ou suplementação medicamentosa preventiva à educação
alimentar e nutricional”.
Rugani alerta que o aumento da insegurança alimentar
significa aumento da pobreza, da desigualdade social.
“Isso é resultado de situações de crise econômica, para a
qual a resposta do Poder Público tem sido a austeridade fiscal. Uma medida que
não é a única possível, mas a que tem sido adotada em alguns países e que ela
produz mais vulnerabilidade. Deixa as populações vulneráveis mais
desprotegidas. O Brasil, por exemplo, que tinha conseguido sair do Mapa da Fome
da FAO está voltando para esse mapa”.
A pesquisadora cita também a mortalidade infantil, que após
26 anos em queda, voltou a crescer no Brasil. “Esses são marcadores de que as
condições de vida estão se deteriorando. O que está acontecendo nesse momento
no Brasil é que o processo de organização de políticas públicas está sendo
desmontado”.
Embora o país tenha capacidade técnica de dar respostas, a
pesquisadora da Abrasco, que é também professora do Instituto de Nutrição da
Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), observa que há falta de vontade
política para responder às demandas.
Por Brasil de Fato
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