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domingo, 18 de abril de 2021

Rotina de dor e desesperança: um em cada 7 brasileiros tem fome

Há brasileiros com fome. São milhões de pessoas que, com a crise social que vem a reboque da pandemia, viram mirrar uma renda que já não garantia segurança alimentar. São moradores de favelas, população em situação de rua e habitantes de zonas rurais, que mal conseguem comprar um botijão de gás com os auxílios financeiros governamentais (quando chegam) e, para comer, dependem da caridade incerta de ativistas e religiosos. São brasileiros famintos que choram de impotência quando seus filhos vão dormir sem se alimentar.

Sustentando os números que indicam o crescimento do fantasma da fome estão rostos como o de Luiz Roberto Côrrea Silva, de 26 anos. Ele vive com a esposa, Antonia Maria, 20, e uma filha de outro relacionamento, Isabela, de 8, na favela Olaria, zona sul de São Paulo, a maior metrópole do país.

Diante do cenário de desespero que vive, ele contou ao Metrópoles que a opção da família tem sido deixar a filha dormir o máximo possível, para acordar e já almoçar. Quanto ao casal, o caminho é ignorar a barriga roncando e acompanhar a menina na refeição. “Se a Isabela acordar muito cedo, ela vai ficar com fome. É café da manhã ou almoço. Não tem como ser os dois”, relata Luiz. “Vez ou outra, pode acontecer de ter só almoço. Aí a gente inventa alguma coisa para beliscar à tarde, dorme cedo e agradece a Deus esperando o alimento do dia de amanhã.”

A falta de recursos e a fome angustiam esse jovem brasileiro. “O que eu penso é muito pesado pra falar.” Ele chora, respira fundo, e desabafa: “Eu me sinto um inútil, um lixo. Eu não consigo dar pra minha família o que ela precisa. Por mais que eu acorde cedo, corra atrás”. Por Raphael Veleda, Laura Braga, Leandro Barbosa, Bruno Menezes (Metrópoles).

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