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sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Bolsonaro deixa um cenário de terra arrasada que prejudicará o Brasil por muitos anos

© D-Keine
Alguns países precisam ser reconstruídos após enfrentar tragédias incontornáveis ao longo de sua história, como catástrofes naturais ou guerras devastadoras. O Brasil passou por outro tipo de emergência. Eleito dentro da normalidade democrática, sem enfrentar batalhas externas e com uma economia razoavelmente estruturada, Jair Bolsonaro conseguiu em apenas três anos provocar um cenário de destruição. Desmontou estruturas de Estado e jogou um pá de cal em políticas públicas construídas ao longo de décadas. Ele é a tragédia brasileira.

É difícil encontrar uma área que o mandatário não tenha transformado em terra arrasada. Na Saúde, aparelhou o ministério com militares e negacionistas profissionais que tentaram reverter uma tradição de imunização laboriosamente construída ao longo de décadas pelo SUS. O País ficou acéfalo diante da pandemia, salvo o esforço heróico de profissionais abnegados e agências que conseguiram resistir ao assalto. Na hora de comprar vacinas, além de impedir a compra de imunizantes, o presidente abriu a porteira para quadrilhas e oportunistas que tentaram enriquecer com verbas bilionárias, tudo fartamente documentado pela CPI da Covid.
A destruição em todos os setores virou uma política de Estado com Bolsonaro

Na Educação, apenas para citar um dos casos mais extravagantes, o governo criou obstáculos para o avanço da digitalização de escolas, impedindo a conexão por banda larga de unidades pelo País. O Enem, programa que permitiu a democratização do acesso e a racionalização no ensino superior público, praticamente foi inviabilizado. A equipe técnica da pasta foi substituída por amadores e fanáticos ideológicos, uma intervenção que não acontece sem consequências. O ensino requer anos de trabalho contínuo para apresentar resultados. Sua destruição é fácil e rápida, como os países em guerra civil testemunham. Quantos anos de atraso na área o governo Bolsonaro vai impor? Os investimentos na Ciência, igualmente, foram arruinados, provocando a fuga de talentos para o exterior. Esse dado é particularmente alarmante para o avanço do País. Como a educação, a pesquisa científica é o passaporte para o futuro, uma condição necessária para o aumento da produtividade, o desenvolvimento da indústria e o avanço tecnológico. Tamanho retrocesso vai comprometer pelo menos uma geração de brasileiros.

Para se eleger, Bolsonaro se apropriou do projeto econômico ultraliberal do economista Paulo Guedes, um outsider como ele que é igualmente refratário a consensos e a negociações políticas. Guedes prometeu uma revolução com a privatização e venda de ativos públicos, além de mudanças estruturais que reduziriam o Estado de forma inédita, deslanchando os investimentos privados. Esse projeto megalômano e autoritário chocou-se com as instituições e a realidade, desorganizou cadeias produtivas, afastou investidores e fez o País voltar a indicadores que já pareciam superados. O dólar disparou para R$ 5,60. A inflação atingiu 10,06% em 2021, reduzindo o poder de compra e desorganizando os orçamentos familiares. O cidadão sente na pele. O botijão de gás aumentou 50% em 12 meses, a gasolina aumentou 43,2% e a cesta básica avançou 30%. O desemprego atingiu o número recorde de 14,8 milhões de trabalhadores. Mesmo com um pequeno recuo, esse índice se manterá no patamar de 14 milhões de desempregados este ano, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Após uma grande queda nas taxas de juros operada pelo Banco Central (insustentável, como se constatou), a Selic voltou aos dois dígitos, onde deve permanecer até pelo menos o próximo ano. Um dos maiores ganhos institucionais do País desde a redemocratização foi a introdução da Lei de Responsabilidade Fiscal. Ela foi fundamental, por exemplo, para o crescimento nos anos 2000 com controle inflacionário. Até essa evolução está ameaçada pelo governo Bolsonaro. O teto de gastos (que necessitava ajustes, ignorados pelo governo) virou letra morta, liberando as contas públicas para uma farra de gastos populistas e eleitoreiros, na contramão do interesse público. A invenção do orçamento secreto para comprar apoio político no Congresso, driblando a opinião pública, marcou a entrega do Orçamento público para os interesses paroquiais e escusos, revivendo uma prática que ameaça a democracia e havia sido extirpada no mensalão.
 Fonte: Veja na integra aqui no MSN/IstoÉ

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