O título “Virada no mói de Cuento” tem plena razão de existir: quem conhece a poetisa e declamadora Dayane Rocha, 29 anos, à primeira vista descreve a mesma como, de fato, “virada no mói de coentro”, tal intensa ela pode parecer. Mas com um pouco mais de intimidade, é possível entender que, talvez, a imagem de furacão seja um escudo para se proteger das intempéries que mulheres na poesia são submetidas todos os dias no Pajeú. “O nome também surge da forma como conquistei meu espaço através de muita luta como mulher. Embora nascida no Pajeú mas não sendo de uma família tradicional de poetas, ainda levei certo tempo até que fosse aceita ali no meio. Tudo isso está em síntese no título”, descreve.
Com lançamento marcado para o dia 19 de julho de 2025, em Brejinho de Tabira, a partir das 20h, o livro será apresentado junto com uma série de produtos atrelados à estética e temática da publicação, como porcelanas, lenços, cangas e saia, além de peças de barro produzidas em parceria com a Associação Mulheres de Barro de Santa Terezinha e as almofadas produzidas por mulheres de Brejinho de Tabira. O livro pode representar a primeira publicação da artista, mas não é sua primeira imersão no mundo das letras: muito pelo contrário.
Ao longo do tempo, a poesia sempre esteve presente, em diferentes estilos, mas foi nos primeiros manuscritos publicados em redes sociais que surgiram convites para mesa de glosas - tipo poético até então majoritariamente masculino: “comecei a partir de um convite do poeta Marcos Passos. Seria uma Mesa de Glosas feminina... só que essa mesa não aconteceu só de mulheres. Foi em São José do Egito, no dia 13 de julho de 2013, em homenagem à Severina Branca e João Batista de Siqueira, nosso Cancão [...] E nessas idas e vindas da poesia, dos encontros, conheci Severina Branca, já que a mesa foi em homenagem a ela, e isso aproximou muito nosso contato. E então, já na faculdade, meu TCC foi sobre Severina Branca, algo inédito na região, e foi aí que aproximou todo nosso contato”, relembra.
Dayane fez, do exercício de escrever o livro, uma revisita aos outros poetas e poetisas que também a inspiraram: “O livro nasceu moldado da poesia metrificada do Pajeú, tendo como referências Severina Branca, Nita Catota, Rafaelsinha, Luzia Batista, Carmen Pedrosa, Elenilda Amaral, Francisca Araújo, Erivoneide Amaral, Milena Augusto, Thaynara Queiroz, Dedé Monteiro, Lucas Rafael, entre tantos outros gênios”, descreve.
“Por ser naturalmente do Pajeú e ter aprendido a ouvir a poesia através do vento, me inspirou e me instigou a escrever a poesia metrificada, como é conhecido hoje o meu trabalho”
No livro a artista passeia pelas variadas modalidades de escrita, como viola, cestilha, martelo alagoano ou o decacílabo, galope a beira mar, dentre outros. ”Há ainda, de um modo mais cartesiano, a trova ou o soneto, e pelos variados temas também, como Sertão, saudade, maternidade, erotismo na minha linguagem feminina. Ele surge também com a minha vontade de externalizar os meus sentimentos de uma forma metrificada”, filosofa.
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