O soldado do Corpo de
Bombeiros (CB) de Pernambuco Gil Sormany Beserra da Silva, 45 anos, estava há
19 anos na corporação quando, por causa de um tumor de 7 cm² no cérebro, perdeu
a visão em 2009. Fadado à aposentadoria após ser considerado "inválido na
vida civil e militar", ele não aceitou o fim das atividades e decidiu
enfrentar todas as dificuldades para continuar seguindo seu juramento de servir
à sociedade. Nesta segunda-feira (20), às 14h, Sormany, que se tornou o
primeiro bombeiro cego do Brasil, participará da formatura de Cabos, no Teatro
Guararapes, no Centro de Convenções, no Recife.
"Há seis anos eu estava de serviço em Fernando de Noronha, era motorista,
e de repente perdi a visão. Por pouco não acontece um acidente. Minutos depois
voltei a enxergar, mas preferi ser deslocado para outro serviço. Com pouco
tempo percebi que minha visão estava prejudicada e eu não conseguia ver nem os
relatórios. Quando acabou o período de serviço e voltei para Garanhuns (no
Argeste) procurei um médico e descobri o tumor", relembrou o bombeiro.
Após opiniões médicas, Sormany descobriu que por pouco o tumor que lhe tirou a
visão também não lhe matou. Precisou se submeter a uma cirurgia na qual houve
outras complicações que lhe deixaram debilitado por um ano. Depois desse
período de recuperação, o bombeiro tomou coragem para retornar sua vida.
Primeiro buscou se adaptar à deficiência, voltou a praticar esportes e, mais
confiante, quis voltar a prestar serviço ao Corpo de Bombeiros. É o que postou o NE10.
No entanto, não era tão
simples voltar a ser soldado. "O laudo disse que eu era inválido. Eu quis
mostrar que eu apenas não exergava, mas podia fazer tudo. Podia dar palestras,
ser transferido para a telefonia, não precisava estar no operacional, nas ruas.
Mas a gente enfrenta muitos desafios e pessoas que não acreditam no nosso
potencial", contou Sormany.
A busca pelo retorno ao trabalho durou quatro anos e contou com a criação de
uma lei estadual, sancionada pelo então governador Eduardo Campos. "Minha
esposa conseguiu entregar uma carta para Eduardo Campos e eu conversei com ele
para mostrar a situação e que eu não sou incapaz. Agradeço muito à minha
família pelo apoio", ressaltou ele que é casado e pai de dois filhos,
sendo uma garota de 19 anos e um rapaz de 17.
O decreto de 2013 prevê que qualquer bombeiro ou policial civil ou militar, que
sofra um incidente que o torne deficiente, pode voltar às atividades em uma
nova função, caso tenha esse interesse. No caso de Sormany, essa volta
aconteceu somente no final de 2014 e agora ele ministra palestras nas escolas,
além de trabalhar como telefonista e despachante no Grupamento de Bombeiros de
Garanhuns, no Agreste do Estado.