O então juiz Sérgio Moro, responsável pela primeira
instância judicial da Operação Lava em Curitiba, orientou os procuradores do
Ministério Público Federal a rebaterem publicamente por meio de nota à imprensa
o depoimento do ex-presidente Lula no dia 10 de maio de 2017 sobre a acusação
de receber como propina um apartamento triplex no Guarujá. A assunto aparece em
um novo conjunto de mensagens trocadas por Moro e os procuradores no aplicativo
de mensagens instantâneas Telegram publicadas pelo The Intercept na noite desta
sexta-feira (14).
A reportagem começa criticando a entrevista dada pelo agora
ministro da Justiça Sergio Moro nesta sexta-feira ao jornal Estado de
S.Paulo, quando mencionou que considera “absolutamente normal” que juiz e
membros do MP conversem. O The Intercept pontua que com os novos trechos
divulgados pela reportagem “está evidente que não se trata apenas de ‘contato
pessoal’ e ‘conversas’, como diz o ministro, mas de direcionamento sobre como
os procuradores deveriam se comportar”.
No dia 10 de maio de 2017, algumas horas depois de colher o
depoimento de Lula e quando o vídeo da oitiva já estava público e sendo
comentando como assunto do dia pela imprensa, Moro procura, às 22h04, Carlos
Fernando dos Santos Lima, um dos procuradores da Força Tarefa da Lava Jato. O
juiz pergunta a opinião dele sobre a repercussão e depois sugere um
posicionamento público do MP para demonstrar as ‘contradições’ do depoimento do
ex-presidente. “Talvez vcs devessem amanhã editar uma nota esclarecendo as
contradições do depoimento com o resto das provas ou com o depoimento anterior
dele”, diz por mensagem Moro às 22h13. Um minuto depois o juiz escreve: “Por
que a Defesa já fez o showzinho dela”.
O que se segue ao longo da noite e no outro dia nos grupos
de conversa dos procuradores e dos procuradores com a assessoria de imprensa do
Ministério Público são discussões sobre como e por que o MPF deveria se
posicionar publicamente após uma audiência, comportamento que não era adotado
até então. Um dos jornalistas assessores de imprensa desaconselha a ideia. “Na
minha visão é emitir opinião sobre o caso sem ele ter conclusão…e abrir brecha
pra dizer que tão querendo influenciar juiz. Papel deles vai ser levar pro
campo político. Imprensa sabe disso. E já sabe que vcs não falam de audiências
geralmente. Mudar a postura vai levantar a bola pra outros questionamentos”,
diz em um trecho da mensagem.
A reportagem destaca que o assessor desconhecia o fato de
que era o juiz que tentava influenciar o MP, e não o contrário. Na horário
desta mensagem, Carlos Fernando dos Santos Lima já tinha enviado privadamente
para Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato, a sugestão de nota pública
feita por Sérgio Moro e Dallagnol defendia a publicação da nota nos termos
sugeridos pelo juiz.
A reportagem segue narrando que o pedido de Moro foi
acatado no outro dia e os procuradores distribuíram uma nota à imprensa,
repercutida por todos os principais veículos e agências do país. As notícias
ficaram centradas na palavra desejada pelo juiz: “contradições”. E à noite,
depois da repercussão da nota, Dallagnol volta a trocar mensagens com Moro para
explicar por que não explorou a fundo as contradições do petista.
Procurado pela reportagem, o ministro da Justiça enviou a
seguinte nota para o The Intercept: “O Ministro da Justiça e Segurança Pública
não comentará supostas mensagens de autoridades públicas colhidas por meio de
invasão criminosa de hackers e que podem ter sido adulteradas e editadas,
especialmente sem análise prévia de autoridade independente que possa
certificar a sua integridade. No caso em questão, as supostas mensagens nem
sequer foram enviadas previamente”
A reportagem destaca, ao fim, que Moro admitiu na noite de
ontem, durante coletiva de imprensa, a veracidade das mensagens quando afirmou
que foi um ‘descuido’ a troca de mensagens em 7 de dezembro de 2015, em que
passou uma pista sobre o caso de Lula para que a equipe do MP investigasse. (congressoemfoco.uol)
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