O mercado de câmbio teve uma sessão agitada nesta terça-feira
(27), dia em que o dólar encostou em R$ 4,20 e levou o Banco Central a fazer
uma oferta surpresa da moeda americana no mercado à vista, de valor não
revelado. Apesar da operação, que sinalizou para os participantes do mercado
que o BC está desconfortável com a moeda americana acima de R$ 4,12, o dólar
fechou em alta pelo quarto dia consecutivo, em R$ 4,1575 (+0,43%).
No mês, o dólar já acumula alta de quase 9% e só perde para
o desempenho da moeda americana na Argentina, que disparou 28% em agosto.
O dólar já começou a sessão desta terça-feira em alta, com
o real acompanhando a piora das moedas emergentes no mercado internacional, em
meio a renovadas preocupações com a economia mundial, após nova inversão da
curva de rendimentos dos Treasuries. A inversão estimulou a busca por ativos
seguros, como o ouro, o iene e, nos emergentes, o dólar. No mercado doméstico,
pressão do noticiário político, com as repercussões ainda negativas das
queimadas na Amazônia, as declarações polêmicas de Jair Bolsonaro e o temor de
atrasos na agenda de reforma já vinham deixando os investidores mais prudentes
- e seguiram nesta terça.
Clima quente...
Mas o clima esquentou com declarações do presidente do BC,
Roberto Campos Neto, no Senado, interpretadas pelo mercado como uma sinalização
de que a autoridade monetária não via necessidade de ação mais agressiva para
segurar o dólar. O dirigente disse que o real não tem tido ''movimento
atípico'' em relação a outras moedas de países emergentes, mesmo que nos
últimos dias tenha se desvalorizado ''um pouco acima'' de seus pares. ''Campos
Neto foi infeliz em sua declaração sobre o desempenho do real, mas conseguiu
corrigir rápido'', disse um diretor de tesouraria.
Foi neste momento do discurso de Campos Neto que as
cotações do dólar começaram a bater sucessivas máximas e chegarem perto de R$
4,20, o maior valor intraday desde setembro do ano passado. ''O BC percebeu e
acabou agindo rápido para corrigir o problema'', disse um executivo do mercado.
O leilão foi feito entre 13h20 e 13h25. Com o anúncio da oferta, o dólar baixou
rapidamente do nível de R$ 4,19 para R$ 4,14 e em seguida voltou a subir, mas em
ritmo bem menos intenso e ficou boa parte da tarde na casa dos R$ 4,15.
''A alta do dólar estava muito agressiva, o BC tinha que
entrar'', disse o responsável pela área de câmbio da Terra Investimentos, Vanei
Nagem, ressaltando que a instituição está retomando a postura do passado e se
mostrando mais ativa. Foi a primeira vez que o BC fez uma oferta sem estipular
um valor para a operação desde 2009, após os desdobramentos da crise financeira
mundial de 2008. O BC não revelou o valor da operação. Estadão Conteúdo
Nenhum comentário:
Postar um comentário