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segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Fies já acumula redução de 762% dos contratos e empurra estudantes para financiamento privado


Nos últimos seis anos, o número de contratos firmados através do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) caiu 762%. De 732,6 mil em 2014 (antes da recessão e de um primeiro reordenamento) o programa encerrou 2019 com apenas 84,9 mil contratos, deixando para trás a função de principal porta de entrada das universidades privadas. Em Pernambuco, a redução foi de 491%, caindo de 22,6 mil para 4 mil, no mesmo período. Para este ano, a previsão orçamentária do Fies para novos contratos é de apenas R$ 1,33 bilhão, e repensar as linhas de crédito próprias, mirando a expansão, já passou a ser uma realidade às instituições de ensino privadas que acompanham a “extinção” gradativa do programa federal.

Criado em 1999 para emprestar dinheiro para alunos de baixa renda estudarem em universidades privadas, o Fies passou a ter uma explosão de contratos a partir de 2010. Àquela época, os juros caíram de 6,5% para 3,4% ao ano, abaixo da inflação. Além disso, o financiamento pôde ser obtido a qualquer momento, com maior flexibilidade para fiador e quitação da dívida. O problema é que os recursos não eram destinados à demanda primordial. De certo modo, beneficiando quem não precisava e aumentando o número e receita das instituições de ensino superior privadas de todo o País. A partir de 2015, o programa voltou a ter juros de 6,5% ao ano e teto da renda familiar de 2,5 salários.

“Naturalmente, com todo esse contexto de mudanças e redução de vagas desde 2015 - reduziu por mais da metade o que tinha - chegou a um nível de não conseguirmos preencher nem 100% das vagas oferecidas, porque as pessoas sequer conseguem se classificar. Ainda assim, houve uma nova mudança em 2018, que reduziu ainda mais essa oferta, e acabou que foi natural o crescimento da busca pelos financiamentos privados (das próprias universidades)”, conta o diretor executivo de Finanças do grupo Ser Educacional, João Aguiar.

Maior grupo educacional do Nordeste, o Ser Educacional já chega a destinar uma cifra próxima aos R$ 50 milhões para permitir aos alunos financiarem seus cursos através do Educred. A linha própria de financiamento se limita a atender 5% da base total de alunos - que é de 152 mil. Mas tem uma demanda crescente que estimula a rede a pensar em novas formas de ampliar o negócio que atualmente se limita ao aporte de recursos próprios da empresa. Segundo Aguiar, hoje ainda não é clara a intenção do Ser Educacional sobrepor os 5% para financiamento dentro do seu conjunto financeiro, mas não está descartada a busca por parcerias para ampliar o funding “no momento que eventualmente for tomada essa decisão”. (Lucas Moraes lmoraes@jc.com.br)

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