Foto: Stuart Summerfield/Divulgação
Um dos aracnídeos mais temidos por sua picada, que pode
chegar a matar, o escorpião também é fonte de uma substância promissora no
tratamento de duas doenças ainda desafiadoras pela falta de terapias-alvo. Na
edição desta quarta-feira (4) da revista Science Translational Medicine, dois
artigos de diferentes centros de pesquisa mostraram a eficácia de uma pequena
proteína do veneno desse animal para eliminar os sintomas da artrite reumatoide
sem os efeitos tóxicos dos medicamentos atuais e para matar células cancerosas
do tipo de tumor de cérebro mais letal, o glioblastoma.
Tanto no caso da debilitante doença articular quanto no do
câncer de cérebro, embora existam tratamentos, eles resultam em efeitos
colaterais graves, que sobrecarregam o organismo e afetam estruturas saudáveis.
Há tempos, o veneno de animais peçonhentos, como escorpiões, aranhas e cobras,
vem sendo estudado por cientistas porque eles contêm uma quantidade muito
grande de substâncias químicas com potencial de aplicações médicas variadas.
Esses produtos do mecanismo de defesa de muitas espécies são peptídeos,
biomoléculas que, assim como as encontradas em plantas, podem dar origem a
medicamentos.
No primeiro estudo descrito na Science Translational
Medicine, o veneno do artrópode foi usado para aliviar os sintomas da artrite
reumatoide (AR), uma doença inflamatória que, além de limitações físicas,
provoca dores crônicas nos pacientes. Estima-se que 1% da população mundial
sofra do problema. Para controlar as manifestações dolorosas da AR, são usados
diversos medicamentos, incluindo os corticoides, que, embora aliviem o
desconforto, têm efeitos colaterais graves quando usados continuamente —
catarata, glaucoma, osteoporose e diabetes são alguns deles. Outro problema é
que, até chegar ao local da inflamação, esses remédios vão perdendo a eficácia,
dispersados na corrente sanguínea.
Cientistas do Centro de Pesquisa do Câncer Fred Hutchinson,
nos Estados Unidos, identificaram uma pequena proteína no veneno do escorpião
que se acumula rapidamente na cartilagem das articulações. Quando ligaram os
medicamentos esteroides a esses peptídeos, o resultado foi que o remédio se
concentrou apenas nas articulações, evitando os efeitos tóxicos do
anti-inflamatório corticoide no organismo como um todo. Além disso, como não se
espalhou pela corrente sanguínea, a substância ficou muito mais concentrada
onde precisava estar e, consequentemente, o resultado foi melhor. O estudo foi
feito em camundongos.
“Para pessoas com artrite reumatoide, os efeitos colaterais
do controle da doença podem ser tão ruins ou piores que a própria doença”,
observa o pesquisador sênior do projeto, Jim Olson. “Os esteroides gostam de ir
a qualquer lugar do corpo, exceto onde são mais necessários. Agora, encontramos
uma forma de melhorar o alívio da artrite com efeitos colaterais sistêmicos
mínimos”, diz. Segundo ele, embora a abordagem esteja a vários anos de ser
usada em pacientes humanos, revelou-se uma prova de conceito promissora. Por: Correio Braziliense
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