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Descontente com a falta de interlocução com o Palácio do Planalto e sem espaço na Esplanada, a bancada evangélica afinou o discurso e decidiu votar fechada com o governo apenas nas pautas relativas a temas de costumes. Deputados eleitos com apoio das igrejas evangélicas já não poupam, inclusive, o presidente Jair Bolsonaro, que ajudaram a eleger, de críticas públicas nas redes sociais.
O deputado federal Marco Feliciano (Podemos-SP) usou o
Twitter para mandar um recado. "Vocês não pediram minha opinião, mas deixo
aqui humildemente a mesma. A comunicação está péssima", escreveu.
Emendando um apelo: "Quando o governo resolve governar sozinho, se torna
um gigante com pés de barros. O que adianta ter a estrutura que tem se o
alicerce é frágil? O presidente tem que cimentar os pés. E isso se faz chamando
as bancadas para conversar".
O deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) disse que,
"ideologicamente, jamais" a bancada irá "sabotar o
governo", mas alertou que "política se faz com diálogo ou cada um vai
cuidar do seu mandato". "A bancada nunca teve espaço, mas agora está
pior. Ele (o presidente) só dialoga com os militares e com os filhos."
Sóstenes diz que a falta de interlocução terá reflexo nas votações.
"Matérias como a da Previdência, sem diálogo, ninguém coloca o dedo",
avisou.
A mais recente baixa dentro do governo foi a exoneração de
Pablo Tatim, ex-subchefe de Ações Governamentais, cuja indicação foi
referendada pela frente evangélica. A exoneração saiu nesta sexta-feira, 8, no
Diário Oficial da União. Ele foi coordenador jurídico do gabinete de transição
de Bolsonaro e, no governo, trabalhava com o ministro da Casa Civil, Onyx
Lorenzoni.
Para agradar evangélicos, Bolsonaro usa discurso moral
Sem conseguir saciar o apetite da bancada evangélica com
cargos, Bolsonaro lança mão de outra estratégia para tentar agradar ao grupo de
parlamentares: o discurso moral. Em 67 dias, foram inúmeras as demonstrações do
governo de que o tom conservador nos costumes terá prioridade.
A prova mais recente deste comportamento está nas
declarações do presidente de quinta-feira, quando criticou o teor da Caderneta
de Saúde do Adolescente. Lançada em 2008, ela traz informações sobre métodos de
prevenção da gravidez e doenças sexualmente transmissíveis, além de abordar a
transformação do corpo e de alertar para a necessidade da vacinação. O
presidente deixou claro que irá determinar a mudança no conteúdo, para que
ilustrações e trechos sobre prevenção da gravidez , considerado por ele
inapropriado para determinadas faixas etárias, sejam suprimidos.
Ainda na primeira semana de governo, uma cartilha dirigida
a homens trans foi retirada de circulação. O material voltou poucos dias
depois, mas sem ilustrações consideradas polêmicas por grupos conservadores.
Também para evitar desagradar a "famílias", o Ministério da Saúde
adotou um tom "genérico" na campanha de carnaval.
No Ministério da Educação, o tom se repete. O ministro
Ricardo Velez já disse que o programa de Saúde nas Escolas, que trata também de
educação sexual, deverá ser "atualizado" para se adequar aos padrões
das "famílias". (Estadão Conteúdo)
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