Da BBC News Brasil em Brasília
Demitido do governo em junho, o ex-ministro da Secretaria
de Governo general Carlos Alberto dos Santos Cruz hoje quer distância do
presidente Jair Bolsonaro.
O militar da reserva pensa em se filiar a um partido
político e disputar eleição no futuro - ainda não sabe por qual sigla e para
qual cargo, mas tem certeza que não fará isso ao lado do seu antigo chefe.
Para ele, Bolsonaro deixou o PSL para criar uma nova sigla,
a Aliança pelo Brasil, não por divergência ideológica, mas devido a disputas
para controlar dinheiro dos fundos partidário e eleitoral.
"Eu não entraria em um partido hoje do presidente
Bolsonaro de jeito nenhum. Ele tem valores que não coincidem com os meus; ele
tem atitudes que eu acho que não têm cabimento", disse, em entrevista à
BBC News Brasil.
Santos Cruz deixou o governo após sofrer uma onda de
ataques nas redes sociais que teria sido orquestrada por um dos filhos do
presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ). A campanha de difamação
incluiu uma imagem, falsa segundo o general, de uma conversa dele com ataques
ao governo.
"Uns criminosos vagabundos de baixo nível fazem
aquilo, entregam para o presidente (a imagem forjada), incrivelmente ele
acredita naquilo e incrivelmente ele até hoje se nega a dizer quem levou aquilo
para ele. São coisas que não se pode esperar de uma autoridade que tem essa
responsabilidade", afirma.
Desde então, o general retomou uma intensa agenda de
viagens pelo Brasil e o exterior. Prestigiado internacionalmente após ter
comandado a maior missão de paz da ONU (Organização das Nações Unidas),
chefiando mais de 23 mil capacetes azuis na República Democrática do Congo
entre 2013 e 2015, ele voltou a atuar junto à instituição que hoje é tachada de
"globalista" pelo governo brasileiro.
O general conta que a política externa de Bolsonaro, marcada
por uma "alinhamento automático" aos Estados Unidos, tem causado
surpresa entre atores internacionais.
"É completamente ideológica (a política externa).
Desde o discurso de posse do ministro das Relações Exteriores (Ernesto Araújo),
quase transformando a Bíblia num plano de governo", critica.
Ao fazer um balanço do primeiro ano de Bolsonaro, Santos
Cruz aponta incoerências com o discurso de campanha, marcado pela bandeira
anticorrupção.
Na sua avaliação, o governo trouxe "desilusão para
muita gente" nessa área, citando como exemplo pressões sobre o diretor da
Polícia Federal, Maurício Valeixo, e o enfraquecimento do Coaf - órgão que foi
rebatizado de Unidade de Inteligência Financeira e teve sua atuação limitada
por quatro meses após o STF atender um recurso de outro filho do presidente, o
senador Flávio Bolsonaro (Sem partido-RJ), investigado por suposto desvio de
verba do seu antigo gabinete de deputado estadual.
O ex-ministro mostra mais otimismo com o governo na área
econômica, mas diz que é preciso "prestar atenção pra não ficar só na
matemática financeira", sem chegar nos mais desfavorecidos.
Questionado pela BBC News Brasil sobre declarações do
presidente e seus filhos em apoio à Ditadura Militar (1964-1985), Santos Cruz
diz que "é o tipo de manifestação completamente deslocada no tempo,
infeliz". Ao contrário de Bolsonaro, ele não comemora a tortura e
assassinatos políticos praticados pelo regime militar (são 434 entre mortos e
desaparecidos), mas evita apontar os erros dos governos desse período e
equipara os crimes de agentes do Estado aos dos grupos armados que militavam
contra a ditadura.
"Essas deformações dos dois lados não podem acontecer
de novo. Então, seja do Brilhante Ustra (coronel que comandou torturas) ou seja
dos criminosos da esquerda, isso não pode acontecer novamente", rechaça.
"Não adianta ficar trazendo e discutindo coisas (do
passado) pra um Brasil que hoje tem 12,5% de desempregados, que tem que fazer
uma conciliação, que tem que parar com a divisão social, com os grupos
extremistas que nós temos aí hoje", reforça.
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